O jornalista e fotógrafo ou o fotojornalista (como queiram) João Correia Filho, tratado por Gandhi entre os amigos, falou comigo por e-mail. Em pauta, fotografia, guerra, Guimarães Rosa e a busca pelo novo. Segue a e-mailvista (entrevista por e-mail) na íntegra.
Márcio ABC - Você me permite chamá-lo de cigano da fotografia? Como você explica sua inquietude quanto ao trabalho? Você não pára: ora aqui, ora acolá. Um fotógrafo deve ser inquieto?
João Correia Filho - Não sei se inquieto é a palavra correta, mas acho que os fotógrafos estão sempre em busca de uma nova história, um novo ângulo. Faz parte da profissão. E isso se aplica tanto ao fotojornalismo como à fotografia de forma geral. Mesmo em um estúdio, o fotógrafo tem que estar sempre buscando um novo elemento, seja um novo cenário, uma nova luz. No que diz respeito ao fato de estar sempre em lugares diferentes, isso é só a forma como meu trabalho é feito: ora me chamam para fazer uma matéria aqui, ora acolá. Às vezes, me ocorre uma idéia de matéria ou de ensaio fotográfico que se passa em São Paulo, outras no sertão mineiro. Gosto muito de viajar, de conhecer outros lugares, outras culturas, e tenho o privilégio de unir as duas coisas que mais amo: viajar e fotografar.
Márcio ABC - Você percorreu o sertão de Minas para recompor o universo criado por João Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. Acho que posso imaginar o quanto algo assim é emocionante, mas me diga você.
João Correia Filho - Tive um envolvimento muito forte com o livro Grande Sertão: Veredas. Aliás, com grande parte da obra de João Guimarães Rosa. Mas, a emoção e o prazer que esse livro, especificamente, me causou foram realmente muito fortes. Aprendi muito sobre o ser humano lendo esse livro, muito sobre a natureza, sobre Deus, sobre o diabo, sobre fim e começo. Esse aprendizado está em frases como: "O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”. Esse pensamento, por exemplo, sempre me norteou.
Então comecei a me perguntar se ainda haveria algo desse universo roseano vivo no sertão mineiro. Fiz várias viagens e me deparei com um mundo que facilmente figuraria nas histórias de Rosa. Personagens, paisagens, tudo se materializava. Tentei captar em minhas fotos, documentar o que ainda havia de Grande Sertão: Veredas no interior da Brasil. A maior emoção foi chegar lá e vivenciar a essência que o livro me trazia. As pessoas fantásticas que conheci, algumas com 96, 98 anos, trazendo tanta experiência, tantas histórias e estórias. Os lugares que visitei, o sol forte, as veredas, o cheiro daquele mato. Encontrar tudo isso foi realmente emocionante. O resultado é um documentário fotográfico que mostra como eu enxergo esse sertão, uma das infinitas formas de traduzir esse livro. Contadores de história, barqueiros, benzedores, homens maus, os animais, a paisagem descrita no livro...Seria capaz de citar infinitas relações entre o que fotografei e o texto de João Guimarães Rosa. O rio São Francisco, por exemplo, tem uma importância incrível na dinâmica de Grande Sertão: Veredas. Na vida do sertanejo essa importância também existe. As veredas, verdadeiros oásis do sertão, onde nasce a água do sertão, também são tratadas com extrema importância no livro. O próprio nome do livro já confirma isso. Isso tudo está registrado.
Márcio ABC - Sua mais recente exposição revelou detalhes de vias paulistanas que levam o nome de grandes escritores. Como foi essa pesquisa e qual a repercussão desse trabalho?
João Correia Filho - Essa idéia estava em minha cabeça há bastante tempo. Logo quando cheguei em São Paulo, pois moro aqui há três anos, conheci quase que por acaso a rua João Guimarães Rosa. É uma rua curta, com apenas duas quadras, que passa despercebida, apesar de estar ligando a Consolação e a Augusta, duas importantes ruas da capital. Comecei a pensar nas relações que poderia haver entre as ruas e a obra de seus respectivos homenageados. Foi assim que surgiu a idéia do Ruas Literárias. O que era uma simples idéia tornou-se uma exposição. Foi matéria na revista CULT, em sites de fotografia, enfim, acho que a idéia foi bem recebida. Talvez essa tenha sido a repercussão.
Márcio ABC - Qual sua impressão sobre o fotojornalismo nacional de hoje?
João Correia Filho - Acho que está surgindo uma nova geração de fotógrafos bem interessados nessa questão do documentário. Muitos já fizeram e continuam fazendo esse tipo de trabalho. Aliás, me inspirei em caras como Cristiano Mascaro, Pedro Martineli, que são de uma geração anterior à minha. Mas agora, com Thiago Santana, André Pessoa, entre outros, sinto que vem surgindo um novo levante em prol da fotografia documental, por conseqüência, do fotojornalismo. Esta linguagem está sendo redescoberta. Claro que o fotojornalismo ainda esbarra na falta de estrutura que se tem para trabalhar no Brasil. Aqui, ainda há poucas oportunidades para o fotojornalista ou para quem trabalha a fotografia de forma documental. Por exemplo: são raras as boas revistas sobre fotografia. E a maioria não é conhecida do grande público. Isso dificulta. Só quem está na área sabe como, a duras penas, se luta para sobreviver só de fotojornalismo, tocando seus projetos pessoais, etc. Mas, talvez, o fotojornalismo internacional só tenha vantagem estruturais. Outro dia um amigo, Nilton Pavin, editor da Revista do Explorador, me disse que foi a uma palestra da fotógrafa Jod Cobb, da National Geographic, e a desafiou a um ensaio fotográfico nas condições que nós fazemos por aqui, com poucos filmes, sem dinheiro, sem estrutura. Um fotógrafo da National sai com 800 filmes para uma matéria, fica meses viajando. E claro, volta com um grande material. No Brasil, cansei de fazer matérias gigantes, com capa e tudo, com apenas 8, 10 filmes. Eu mesmo tento viajar com muito filme, mas não sei o que é fazer uma matéria com 100 filmes, por exemplo. Tem gente no Brasil que faz, mas é uma minoria.
Márcio ABC - E quanto à guerra do Iraque? A cobertura fotográfica foi boa?
João Correia Filho - Humm...difícil responder. Se disser que cobertura fotográfica boa é medida pelo fato de eu ter visto ótimas imagens na imprensa, acho que foi boa. Mas acho que há outros parâmetros para se dizer se a cobertura foi boa. Uma guerra em que os fotojornalistas ficam à mercê dos exércitos já não pode representar uma cobertura ideal. Uma cobertura é boa quando a guerra nem acabou e já se esqueceu de tudo? Onde estão os mortos? Não vi uma foto do pós-guerra que realmente mostrasse as conseqüências disso tudo. Mas dentro do que é permito, se obteve um bom resultado. O mundo tá cheio de excelentes fotojornalistas, com grande capacidade de trabalho.
Márcio ABC - Bem, de minha parte, abomino qualquer guerra. Mas, não sejamos hipócritas: a guerra permite a composição de um rico cenário dramático, especialmente quanto à imagem. Você gostaria de participar da cobertura de um conflito armado? Ou sua guerra é fazer explodir a sensibilidade pela imagem?
João Correia Filho - Como fotojornalista, é claro que gostaria de participar da cobertura de um conflito como a Guerra do Iraque. Deve ser uma experiência fotográfica e humana única. Estaria mesmo sendo hipócrita se dissesse que não faria ou que não gostaria de fazer. No entanto, isso não está, no momento, colocado no caminho que tracei para minha fotografia. E para se cobrir uma guerra é preciso estar envolvido nesse tipo de fotojornalismo. Hoje estou voltado muito mais para a cultura popular, para literatura do que para problemas urbanos. Por isso, faço poucas matérias que trazem esse universo. É uma opção. Claro que, se houvesse necessidade, ou um convite, faria, afinal sou jornalista. Mas acho que as coisas aparecem na medida em que você procura. Minha sensibilidade está focada em outras coisas. Por enquanto tento informar e encantar com o universo que mais me apetece.
Márcio ABC - Existe receita para a formação de um bom fotógrafo? Ou o bom fotógrafo já nasce fazendo a cobertura do próprio parto (rs)?
João Correia Filho - Existe a receita para a formação de um bom profissional. Primeiro: gostar muito do que faz, e em segundo lugar se dedicar bastante. João Guimarães Rosas, se me permite citá-lo novamente, dizia que o segredo para tudo é trabalho, trabalho, trabalho. E ele trabalhava muito em cima de cada linha de seus livros. Não acredito que alguém nasce fotógrafo. O fotógrafo se faz com muita leitura, dedicação, prática, paciência e experiência. E claro, fotografar muito. Só depois disso, ele vai começar a descobrir sua própria luz, seu momento ideal para fotografar, sua linguagem. E essa descoberta está muito ligada à história de cada um. Não existe fórmula nem receita para isso.
Márcio ABC - Tem idéia de quantas fotos já tirou? Como você guarda seu acervo?
João Correia Filho - Não tenho idéia de quantas fotos já tirei. Quanto a meu acervo, que prefiro chamar de arquivo, utilizo os procedimentos normais: um armário de pastas suspensas sem umidade e com temperatura controlada. Costumo separar minhas imagens por reportagem, já que é assim que trabalho. Pouco a pouco venho organizando por temas, mas a maioria ainda é guardada por assunto.
Márcio ABC - Já existe um novo projeto em mente?
João Correia Filho - Já existem muitos projetos em mente. Penso em fotografia 24 horas por dia, sem achar que isso seja uma obsessão. Fico o tempo todo pensando em ensaios e idéias. Quando estou lendo jornal, um livro, vendo um filme, ou simplesmente andando pelas ruas penso em fotografia. Por enquanto, estou ampliando o Projeto Ruas Literárias. Pretendo fazer um mapeamento da literatura no interior de São Paulo, indo para diversas cidades, como Bauru, Rio Preto, São Carlos, Araraquara e fotografar as ruas com nomes de escritor de cada uma delas, transformando mais tarde em exposições fotográficas como a que fiz no Sesc Vila Mariana. Também comecei um novo ensaio sobre a rota dos aviões que passam por São Paulo, voando baixo e compondo a paisagem urbana. E sobretudo, estou dando continuidade ao meu trabalho com o Grande Sertão: Veredas, que ainda há de me consumir muitos anos. Além disso, há algumas matérias que estou começando a fazer agora. Como trabalho como free-lancer, preciso estar sempre atento e ativo.
Márcio ABC - Bom, para encerrar, o pingue-pongue:
Uma grande foto: são muitas, mas sempre me lembro de uma do Cartier Bresson que tem um casal de namorados e um cachorro, formando um círculo na fotografia.
Sua grande foto: a da cassação do Izzo (ex-prefeito de Bauru, Antonio Izzo Filho), capa do Diário de Bauru em 1998.
Escritor: João Guimarães Rosa, posso?
Livro: Grande Sertão: Veredas
Comida: de vó
Cidade: atualmente, São Paulo
Sonho: continuar fotografando, sempre.
Filme: são muitos; um deles, mais recente em minha memória, O Filho da Noiva.
Gosta de: viajar e fotografar
Odeia: esperar
Márcio ABC - Meu caro Gandhi, você sabe o quanto eu o admiro. Obrigado por sua atenção e um grande abraço.
João Correia Filho - a admiração é recíproca.
“A VITÓRIA PERTENCE AO MAIS PERSEVERANTE..
“O SUCESSO É A SOMA DE PEQUENOS ESFORÇOS”…
Parabenizo e homenageio por meio deste o ESCRITOR JOÃO CORREIA FILHO e toda a equipe pelo lançamento do livro “LISBOA EM PESSOA GUIA TURÍSTICO E LITERÁRIO DA CAPITAL PORTUGUESA”. Parabéns pelo EXCELENTE TRABALHO, DETERMINAÇÃO E PROFISSIONALISMO, realizado neste belíssimo trabalho e um brinde pelo SUCESSO! O potencial de trabalho de vocês é de grande valor para a comunicação brasileira. Recebam esta singela homenagem com meus sinceros votos de muitas realizações e planos futuros. Desejo nestas poucas palavras votos de muita SABEDORIA, CONHECIMENTO, ENTENDIMENTO e principalmente DISCERNIMENTO em todos os seus caminhos. Acabei de depositar na conta de vocês a importância de muitos DIAS, SEMANAS, MESES E ANOS DE FELICIDADE E PROSPERIDADE, SAÚDE, PAZ, AMOR e que Deus estenda às mãos sobre vocês e toda sua família e acrescente 100 por cento de juros em cima de tudo isso.
“A MAIOR RECOMPENSA PELO TRABALHO NÃO É O QUE A PESSOA GANHA, MAS O QUE ELA TORNA- SE ATRAVÉS DELE.”
DESEJO SUCESSO A TODOS!
PAULINHO Solução
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Salto/SP