Luiz Malavolta, um dos mais competentes jornalistas da atualidade, explica assim o histórico de sua vida profissional:
Comecei muito jovem no jornalismo, há quase 32 anos. O Jornal da Cidade (Bauru) havia acabado de se mudar para sua nova e moderna sede, na rua Xingu, 4-44, quando eu fui trabalhar na redação. Inicialmente, ajudava a equipe que produzia um suplemento imobiliário, um tablóide que vinha encartado dentro do JC às quintas-feiras, com artigos sobre o setor de construção civil, compras e vendas de imóveis e muitos anúncios classificados. Era uma coisa arrojada para aquela época. O editor era um jornalista já falecido chamado Hélder Barros. Com o fim do suplemento, o então diretor do JC, Nilson Costa, me deu uma oportunidade na redação e lá fiz um pouco de tudo: fotografia, diagramação, reportagem, revisão.
Em 1976, houve uma greve que paralisou a Santa Casa de Bauru. Estávamos em plena ditadura militar e greve era crime contra a segurança nacional. Essa greve foi organizada por um grupo de médicos. O assunto chamou a atenção dos principais jornais do Brasil e foi a minha oportunidade profissional. Um jornalista bauruense, que não vejo há muitos anos, chamado Roberto Pinto, que havia passado pelo JC no começo de sua carreira, estava trabalhando na sucursal paulista do jornal O Globo, do Rio de Janeiro. Ele me ligou e ofereceu-me a oportunidade de escrever as matérias sobre a paralisação na Santa Casa.
A crise no hospital cresceu, houve uma intervenção militar na Santa Casa, com a destituição da direção e a indicação de um novo corpo diretivo. Na época, isso rendeu muitas matérias para O Globo. O chefe de redação da sucursal de São Paulo gostou do meu desempenho, me convidou para ir até a capital e lá me deu a chance de continuar escrevendo como free-lancer de O Globo. Virei então correspondente de um importante jornal do Rio. Isso foi fundamental para mim profissionalmente.
Paralelamente, acabei indo trabalhar como repórter da Rádio Jovem Auri Verde (Bauru), onde permaneci de 1978 a 1980. Em 1980, a TV Bauru, então da Rede Globo, me contratou como repórter e lá permaneci até 1986, ocupando outros cargos, como editor, chefe de reportagem e coordenador de pauta. Saí da TV Bauru para ajudar em projetos de implantação de emissoras regionais da Globo. Participei do projeto Rede Globo Noroeste Paulista, com sede em São José do Rio Preto, que foi outra importante experiência profissional. Saí da Globo para ser repórter especial de O Globo, com dedicação exclusiva e baseado em São Paulo.
Passei depois pelo SBT, onde permaneci pouco menos de um ano, participando daquele projeto de telejornalismo que o Silvio Santos bolou e que levou à criação de dois telejornais, o TJ Brasil e o TJSP, que depois foi tirado do ar com a criação do Aqui Agora. Saí do SBT antes da criação do Aqui Agora, retornando a O Globo, porque fui convidado pela chefia da sucursal para acompanhar como repórter a primeira eleição presidencial em 30 anos.
Em 1991, deixei O Globo para ser editor na Folha de S. Paulo, passei por vários cadernos. Deixei a Folha em 1993 para coordenar um projeto de TV em Bauru, que resultou na criação da extinta TV SPCentro, afiliada da TV Bandeirantes. Ali pude fazer um projeto de jornalismo comunitário muito interessante, porque possuía total liberdade para criar quadros e desenvolver novas formas de fazer reportagens. Saí da emissora no início de 1994, de volta à Folha, agora como repórter, onde permaneci até 1996, quando o jornalista bauruense Amauri Soares me convidou para ser chefe de reportagem da TV Globo de São Paulo, que se constituiu o maior desafio profissional de minha vida. Permaneço na empresa e no mesmo cargo desde então.
A seguir, a entrevista concedida por Malavolta.
Você é um profissional que está há um bom tempo no meio televisivo, mas também tem uma ampla história no jornalismo impresso. O que difere um meio do outro?
O jornal impresso me deu toda a base profissional que me levou aos desafios que tive desde que iniciei. Foi no jornalismo impresso que aprendi a escrever, que aprendi a apurar uma notícia, a questionar todos os lados. O rádio me deu a oportunidade de aprender a ser ágil, porque a notícia importante tem de ser contada no exato momento que acontece. A TV é um instrumento sofisticado, que exige uma qualidade profissional enorme de quem se dedica a esse meio de comunicação. A TV é hoje o instrumento de comunicação mais importante do país, porque é capaz de atingir praticamente 100% da população. Por isso, trabalhar numa TV exige não apenas a experiência jornalística, mas também a sensibilidade para entender o que o telespectador quer ver no telejornal que assiste. O bom jornalismo de TV precisa refletir as necessidades da comunidade, do país, sempre do ponto de vista de quem está na frente do aparelho e quer ver suas reclamações e sua opinião refletidas no noticiário! Quem se der ao trabalho de pesquisar os arquivos de telejornalismo verificará a tremenda evolução que tivemos no meio, não só por causas tecnológicas, mas também pelo aperfeiçoamento da linguagem, das técnicas e da forma que criamos no país para relatar ao público as notícias mais importantes e que lhe interessam. Só para exemplificar, quero lembrar que foi a TV que denunciou os policiais de Diadema, causando uma indignação nacional contra os PMs; foi a TV que denunciou a existência de corrupção nas administrações regionais da prefeitura da capital paulista, levando à prisão mais de 400 pessoas, entre elas um vereador e um deputado estadual. Não se pode falar de imprensa, sem destacar a importância do jornalismo de TV no Brasil.
Você tem preferência por um ou outro?
Não necessariamente. Gosto de escrever; aprendi a técnica da reportagem que hoje pouco se pratica. A reportagem é uma coisa muito cara. Hoje, tenho uma função na empresa que trabalho jornalismo, que não é a de repórter. Mas jamais deixei de ter aquele olho clínico de repórter, fundamental para quem é da área. Meu desafio é enorme e não saio da redação com menos de 12 horas de jornada diária; coordeno uma equipe formada por repórteres do melhor nível e credibilidade. É uma imensa responsabilidade. Mas considero que tenho muito ainda a aprender em TV. Aliás, todo dia aprendo alguma coisa nova em TV.
Aliás, com tantos avanços tecnológicos e com o próprio advento da internet, fatos que tornam a informação cada vez mais ágil, como você observa o papel do impresso? Você acha que os jornais terão que se adaptar a um novo formato, talvez com mais análise, opinião e interpretação, ou sempre haverá um público disposto a ler notícias que já foram tratadas nos demais meios?
O jornalismo impresso ainda não encontrou seu caminho nesta era de comunicação eletrônica e digital instantânea. O jornal puramente noticioso é algo superado. A notícia está aí na TV, no rádio, na internet. O leitor de jornal quer algo a mais. Quer textos mais analíticos, quer ver discussões amplas sobre temas de toda a ordem; o leitor quer entender por que as coisas acontecem. Entretanto, os jornais continuam sendo feitos exatamente como eram feitos há 30 anos. Ao mesmo tempo, sumiram das suas páginas reportagens investigativas, reportagens de aventuras. Tudo foi substituído por pequenas notícias; uma quantidade imensa de informações que nos afogam e desorientam. Você lê todo dia como está a economia do Brasil, mas não entende patavina o que vem acontecendo. Você não é informado que a economia está em frangalhos, que a nossa inflação do real é a maior da América do Sul, que estamos, ano após ano, empobrecendo e nos tornando mais dependentes do capital internacional e que na verdade o país já foi vendido e entregue a grandes corporações. O dia que os jornais encontrarem seu novo caminho, conquistarão o leitor.
E a televisão, que é onde você trabalha e cuja evolução tecnológica é bastante dinâmica, o que esse meio de comunicação cada vez mais inquieto exige do profissional?
A TV realmente é um instrumento em permanente evolução. Creio que chegará o dia que computador e TV serão um único instrumento. Profissionalmente, a TV exige de nós jornalistas um preparo cada vez maior. Não basta dominar a técnica de fazer notícia; teremos de ser especializados em economia, em política, em cobertura de assuntos policiais. A TV já exige de seus profissionais não apenas o diploma de jornalista, mas também domínio de uma segunda e terceira línguas. O inglês é fundamental hoje. Vivemos num mundo em que tudo é discutido em inglês. Quem não fala esse idioma está fadado a ser excluído do mercado em todas as atividades profissionais. Esta é minha preocupação com meus filhos, que estão fazendo jornalismo: que eles entendam que não basta conhecer o inglês e o espanhol, por exemplo. Mas que devem ter o domínio dessas duas línguas como dominam o português, falando e escrevendo.
Você é um jornalista extremamente respeitado no meio. Nós sabemos que o jornalismo não está imune à falta de ética e profissionalismo. O que é preciso ter em mente na hora de buscar um caminho limpo para atuar na profissão?
Primeiro, a gente tem que ter em mente que jornalismo não é mercadoria; não é como uma caixa de sabão em pó, que a gente pega na prateleira do supermercado e usa. Quem pratica jornalismo exerce uma atividade de consciência; quando se pratica o mau jornalismo, quem perde é a sociedade. A eleição de Fernando Collor foi um exemplo dramático de mau jornalismo generalizado. Eu cobri a eleição presidencial e vi o quanto estávamos despreparados para um evento daquela importância, em 1989, porque ficamos anos sem eleição e sem praticar uma cobertura daquela grandeza. Os empresários do setor de comunicações, com medo do Lula, se deslumbraram com Fernando Collor e o apoiaram, direta ou indiretamente. A nossa imprensa omitiu informações preciosas do eleitor, e este foi às urnas achando que o chamado "caçador de marajás" era o salvador da pátria. O país acordou, meses depois, de uma imensa ressaca. E de fernando-em-fernando, de itamar e lula, a gente vai entendendo que o processo democrático pode não ser o melhor dos mundos, mas é, sem dúvida, a maneira que encontraremos um dia o nosso destino. Eu fui diretor do sindicato dos jornalistas, anos atrás, nas décadas de 1970 e 1980. Naquela época, defendia algumas propostas que foram derrotadas em assembléia. Defendia uma revisão no decreto lei 972/69 que regulamentou a profissão. Entendo que esse decreto não trouxe nenhum benefício ao profissional, apenas impediu que gente talentosa, mas sem recursos financeiros para pagar uma faculdade, pudesse trabalhar na área sem diploma e/ou registro profissional. O decreto, ungido pelos militares para controlar a atividade, serviu para dar dinheiro aos donos de faculdades e universidades e criar uma necessidade que não existe. Eu defendo há anos que além do sindicato tenhamos um Conselho Regional de Jornalismo, nos moldes de uma OAB, CREA e CRM. Esse conselho regularia a atividade profissional e teria poderes plenos para punir aqueles profissionais que usam a profissão para se locupletarem ou praticarem um jornalismo espúrio. Mas a categoria é muito dividida. Abandonei o sindicato há vários anos, desisti do sindicalismo, decepcionado com as posturas de pessoas que exerciam grande influência sobre a categoria. Eu não estava equivocado, como chegaram a me argumentar àquela época. Valemos menos hoje do que há 10 ou 20 anos. Somos substituíveis com facilidade. Esta é a realidade hoje, tantos anos após a regulamentação da profissão.
Para o tipo de trabalho que você executa, ou seja, atrás das câmeras, buscando a informação a todo instante, quais são os pré-requisitos naturais?
Eu acredito que coragem, determinação e vontade de trabalhar, aliados a uma boa base cultural, são os elementos importantes para que qualquer jornalista obtenha vitórias. Você pode ter boas idéias, mas se não tiver a coragem e a determinação para implementá-las, elas jamais acontecerão. Para isso, você tem que trabalhar, muitas vezes um trabalho solitário, de horas, dias, semanas, meses. Eu tenho exemplos próprios. Uma das minhas primeiras reportagens importantes levou mais de 8 meses para ficar pronta. Foi em 1977. Passei meses sozinho lendo volumes e mais volumes de um processo que era na época inédito no Brasil e que levou uma grande montadora aos tribunais processada por uma família que perdeu dois de seus integrantes num acidente motivado por falha mecânica num veículo que tinha acabado de sair da concessionária. Soube do assunto por intermédio do advogado do caso e fui pesquisar. Claro que recebi muitas pressões de assessores da indústria, mas tive o respaldo de minha chefia. Passei muitas noites em claro lendo laudos periciais; depois, levei um bom tempo para entrevistar os peritos, as partes, todos os personagens deste caso. Oito meses depois entreguei a reportagem, com tudo apurado. Fiquei a noite em claro esperando rodar o jornal e só fui para casa quando vi um exemplar com a reportagem. Eu gosto de desafios assim, que me estimulam e me fazem acreditar que o bom jornalismo é este. Fiz com o Caco Barcelos uma série de reportagens sobre a história de um casal morto pela ditadura, cujos homicídios não apareciam em nenhum lugar. Nem a família sabia que o casal havia sido executado pelos militares em 1968. Soubemos da história, porque um ex-soldado, que participou da execução, arrependido do que fizera mais de 30 anos antes, nos procurou e desabafou. Ficamos um ano apurando essa história e confirmamos se tratar de um fato verdadeiro. A série de reportagem saiu no Jornal Nacional, com grande destaque. A reportagem recebeu três prêmios. Foi a glória. Acredito que quem quer ser jornalista não pode nunca subestimar sua crença na profissão.
Como é o seu dia-a-dia em São Paulo? Há uma maneira de, ao menos nas horas de folga, desligar-se das pressões que a profissão exerce?
Eu fico permanentemente com um celular ligado e um rádio Nextel, que me mantém em comunicação permanente com minha equipe e com meus superiores. Aos fins de semana, quando estou em folga, me dou o direito de me desligar. Só fico com o celular ligado, porque recebo ligações pessoais também. Mas a gente nunca deixa de pensar no trabalho, mesmo quando está folgando. Gostaria de ter tempo para continuar estudando, mas isso tem sido impossível dentro da rotina que tenho. Por isso, nos fins de semana que estou de folga, procuro me atualizar, através da leitura. Compro muitos livros, leio muito.
Mala, hoje discute-se muito nas faculdades sobre a "ditadura econômica", ou seja, as dificuldades que o jornalista enfrenta para atuar quando os interesses econômicos da empresa podem falar mais alto. Como você analisa o papel do jornalista diante desse contexto?
Toda empresa privada tem seus interesses. Algumas mais que outras. Eu posso dizer com a maior tranqüilidade que ao longo desses anos todos não recebi qualquer tipo de pressão para deixar de cobrir determinado assunto, porque havia interesse econômico. Creio que esse tipo de pressão econômica vem mais do governo de plantão, porque as empresas são dependentes de crédito ou de importações. Mas até onde posso recordar nos casos que houve interferência dessa ordem, a empresa jornalística se encarregou de denunciar a pressão. Talvez, o noticiário possa ser influenciado por pressões econômicas em empresas pequenas, do interior, onde o dono da imobiliária ou do supermercado fala diretamente com o dono do jornal ou da rádio e eles tiram a notícia que lhes é inconveniente. Numa imprensa como a paulistana, dificilmente isso ocorreria. Se acontece, é de uma maneira dissimulada, que não ficamos sabendo. Eu posso garantir que ao longo desses anos todos nunca recebi nenhuma pressão de superiores para deixar de dar determinada informação por causa de pressões econômicas.
Você atua no jornalismo desde o fim da ditadura militar, quando a imprensa se desdobrava para noticiar assuntos considerados inconvenientes ao regime. O que mudou de lá para cá na atuação do jornalista? O que difere o jornalista atual do jornalista dos anos de chumbo? O que é mais fácil: lutar contra a ditadura militar ou contra a ditadura econômica?
O jornalismo que se faz hoje é muito diferente daquele da época da ditadura militar. A própria pauta de cobertura mudou muito. Hoje, os meios de comunicação são influenciados por pesquisas de mercado. As empresas contratam institutos para ouvir o público, que opina sobre o que gostaria de ver nas páginas do jornal, da revista, no noticiário de rádio e na TV. Isso tem um lado bom e um lado ruim. O lado bom é que aprendemos que devemos ouvir as pessoas que compram nosso jornal, nossa revista, que ligam na nossa TV e no nosso rádio. Com isso, nos tornamos mais próximos daquilo que o telespectador, rádio-ouvinte e leitor querem saber. Mas, de outro lado, isso nos tornou vulneráveis à medida que nosso público estabeleceu parâmetros de jornalismo diferentes daqueles que estávamos acostumados a praticar. Quando você hoje compra as três principais revistas semanais de informações, muitas vezes encontra reportagens internas e de capas com assuntos sobre saúde, estética, lazer, com várias páginas dedicadas a esses temas. Você passou a semana inteira acompanhando os assuntos mais importantes que aconteceram no seu país e no mundo. Aquela denúncia nova de corrupção em Brasília acabou virando uma pequena nota interna ou nem foi abordada por sua revista. Em compensação, a revista trouxe de capa uma reportagem com mais de seis páginas abordando novas técnicas de rejuvenescimento. Você logo se interessa pelo assunto e esquece a denúncia de corrupção. A pesquisa é importante e deve servir de balizador, mas ela não pode determinar uma mudança radical no estilo de jornalismo. É por isso que todas as revistas semanais são muito parecidas, porque elas trabalham com processos idênticos de aferição, uma influência do jornalismo americano, que é um jornalismo de consumo. Se você pegar o arquivo de revistas antigas, como a Realidade, verá que o tom de jornalismo era muito diferente naquela época. As abordagens eram diferentes e os assuntos considerados importantes eram relacionados mais à política do que a comportamentos! Alguns editores podem argumentar: mas o leitor não gosta de política e nem de economia; prefere comportamentos na cobertura de geral; e quer serviços na abordagem de questões econômicas. Ou seja, o leitor não se interessa sobre como a dívida do Brasil com o FMI está nos esmagando. Ele quer saber como deve fazer para receber a restituição do seu imposto de renda mais rápido; como ganhar mais dinheiro em fundos de aplicações. As prioridades mudaram muito. Talvez reflitamos a própria individualidade que nossa sociedade está assumindo ao longo destes últimos anos. As pessoas querem ser mais bonitas, querem saber as novas técnicas de prevenção de doenças, querem conhecer os novos lugares da moda, e quando passam os olhos em assuntos políticos, desprezam aqueles temas e só lêem com atenção quando algum político é denunciado por alguma amante traída.
Historicamente, sua atuação sempre foi bastante ligada ao jornalismo político. Embora o assunto já esteja, digamos, "frio", eu gostaria da sua opinião sobre o episódio em que o jornalista do Times pintou um país preocupado com um suposto vício etílico do presidente Lula. Teria havido exagero de ambas as partes?
O correspondente do New York Times fez um jornalismo preguiçoso, porque ele se limitou a copiar de várias publicações trechos de notas e/ou de matérias que falavam que o Lula gostava de beber. Daí para o assunto virar um escândalo, bastou entrevistar o Brizola, que já tinha uma diferença com o presidente. O problema do Lula nunca foi a bebida, mas a falta de vontade de governar. Ou talvez, a falta de uma visão do que realmente é o Brasil. O Lula não está destruindo o país, mas destruindo a si mesmo e ao seu partido, com essa política econômica suicida, herdada do Fernando Henrique. Ele está destruindo o sonho de quem acreditou que o PT representava a mudança.
Mala, este site é bastante visitado por estudantes de jornalismo. Trata-se de um público quase sempre ávido por informações que possam ajudá-lo a moldar seu perfil profissional. Que tipos de dicas você pode passar àqueles que estão na faculdade e que daqui a pouco vão enfrentar o mercado de trabalho?
Primeiro, que todos sejam humildes e queiram sempre aprender e não ensinar; segundo, que nunca deixem de estudar, aprender, pesquisar, porque estas são nossas ferramentas; terceiro, tenham sempre em mente que jornalismo é prestação de serviço à sociedade. Não vendemos produtos e nem somos mercadorias; quarto, tenham ânimo para enfrentar um mercado de trabalho muito competitivo, seletivo e que não pensa duas vezes para eliminá-lo, por conta de redução de custos.
Para terminar, uma curiosidade: em sua densa trajetória jornalística, você deve ter reunido muitas histórias interessantes. Você tem planos de algum dia reuni-las em alguma publicação?
A vida de todos é feita sempre de boas e más histórias. Daí, isso virar um livro, acho difícil. Minha vida não daria uma crônica, quanto mais um livro. Eu não me considero um personagem. Um dia, junto com um amigo, sentamos para escrever um livro sobre técnicas de reportagem. Não saiu da primeira página, porque, apesar de tudo o que aprendemos, somos incapazes de dizer: é assim que se faz.
Vamos ao pingue-pongue?
Comida preferida: Hoje , saladas, peixes, frango, tudo muito leve.
Lazer: Ler. Gosto de ler livros de 500, 600 páginas. Fujo de best-sellers, dos paulo-coelhos. Quero sempre uma leitura mais densa, que me faça refletir. Gosto muito de ir ao cinema, procuro ver muitos filmes por ano. Ultimamente, a gente tem visto muita porcaria empacotada em Hollywood.
Um exemplo de homem ou mulher: Meus pais, que morreram - jovens, aliás - e que me ensinaram que a honestidade e a dignidade são valores inegociáveis. Infelizmente, não tive tempo de retribuir a eles tudo o que me ensinaram.
Time do coração: por respeito familiar, o Palmeiras.
Filme: Todos os Homens do Presidente, que é uma lição de jornalismo.
Livro: Canudos, que nunca deixou de ser uma grande reportagem.
O passado: Foi o alicerce do que sou hoje.
O presente: Infelizmente, estou envelhecendo e gostaria de ter mais tempo para fazer as coisas
O futuro: Espero que meus filhos continuem meu trabalho, já que decidiram, contra a minha vontade, ser jornalistas.
parabens. otima reportagem. otimo jornalista. serio. o brasil precisa de pessoas assim. parabens