Exilado em sua fábrica de grandes ilusões, Willy Wonka Lula da Silva resolve sortear belos cargos a vorazes consumidores de poder. Assim, pensa, colocaria fim à sua encastelada solidão. Alguns felizardos ganham o cobiçado passaporte para entrar na fantástica fábrica da doce vida. Bestificados com o que se descortina perante seus olhares matreiros, imediatamente começam a se lambuzar com as delícias do local. Ninguém passa vontade.
A fascinação pelo colorido do lugar - e as suas tentadoras facilidades, tão próximas que são alcançadas num simples estender de mão – fazem com que aqueles que ganharam os tais cupons dourados de pleno acesso passem a se apropriar do que não devem. É estonteante: tudo muito logo ali, tudo ali tão perto, tão convidativamente fácil de pegar.
Talvez Willy Wonka Lula da Silva não seja um homem mau, mas vive num mundo estranho. Acha que, do grupo de crianças traquinas que botou lá dentro, uma reunirá condições morais de herdar tudinho. Alguém se tornaria, então, seu herdeiro genuíno. Esqueceu que até mesmo o que é genuíno pode ser falso no dia-a-dia da frenética fábrica. Não levou em conta que o olho grande da cobiça atiça as lombrigas dos “chodólatras” mais atiradinhos. Ou sempre soube de tudo – e se engana para não amargar os próprios sonhos.
Fez vistas grossas ao fato de que, nessa fábrica, há doce demais para famintos e falíveis mortais. Desconsidera (ou tolera) aquelas mazelas todas – mazela no sentido de desvio de conduta. Desvios em série – porque é assim que a fábrica trabalha.
Como resistir a tanta dócil tentação, parabólico Wonka da Silva? Logo você, que tanto de fábrica entende, deveria saber que não se brinca em serviço. Se crianças inocentes não se fartariam, o que dizer de adultos nada incautos?
Um a um, vão sendo engolidos pela fábrica os sortudos donos dos cupons dourados. Fizeram caca. Degustaram, consumiram, engordaram. Um some aqui e outro se afoga ali, num mar marrom que pode não ser apenas chocolate. Willy Wonka Lula da Silva a todos conduz pelo interior da fábrica de fantásticos favorecimentos - e a tudo assiste com excêntrica indiferença. Ainda tem a certeza de que restará um certo Charlie a não ceder às tentações, a ser correto até o fim, a levar o grande prêmio: a fábrica toda só para ele. Assim, o predestinado ajudaria não só os avós pobres, mas também aqueles que buscam qualquer colocação bem longe de fantástica fábrica de oportunidades carimbadas.
O problema é que talvez esse adorável, prestativo e incorruptível Charlie sequer exista. Já sabemos que não integra o bando que ganhou cupons dourados e jamais pisou em qualquer fantástica fábrica de poder. Está mais para fruto da nossa pura imaginação.