1 Você olha a produção literária nacional hoje e fica de bom humor ou de mau humor?
Ruy – De bom, claro. Existe uma romancista como Heloisa Seixas.
2 O terreno das novas produções está árido ou há alguma onda que se ergue no mar?
Ruy – Se você se refere às minhas produções, está para sair uma nova em junho: “Tempestade de ritmos – Jazz e música popular no século XX”, pela Companhia das Letras, com 58 artigos meus sobre esses assuntos. É meio que uma comemoração dos meus 40 anos de imprensa – sim!
3 Suas obras põem um selo de qualidade nas suas letras biográficas, mas estas seriam estrelas solitárias que não aceitam a companhia, por exemplo, de um romance?
Ruy – Claro que aceitam. No passado, fiz um romance – “Bilac vê estrelas”, em 1990 – e, para este fim de ano, estou escrevendo outro, que sairá pela Objetiva e cujos título e assunto ainda são segredo.
4 Você tem saudades do século 20 ou este 21 vai bem, obrigado?
Ruy – Não tenho nenhuma saudade de ano ou século nenhum – eles vivem em mim o tempo todo. E estou gostando mais ainda do atual.
5 Você já escreveu a obra da sua vida? Ou ainda vai escrever? Aliás, ela é carioca?
Ruy - Curiosamente, acho que já escrevi, sim. É o "Carmen - Uma biografia". Não vejo como fazer uma biografia melhor - outros poderão fazer, não eu. Daí eu querer agora me dedicar a outros gêneros. E claro que ela, a Carmen, era carioca.
6 Você é Flamengo vermelho e negro dos mais ilustres e certa vez finalizou uma crônica admirado que o Rondinelli estivesse de pau duro no vestiário logo depois de um desses jogaços no Maracanã. Embora cada vez mais vigoroso fora das quatro linhas, você acha que o futebol vem brochando no campo?
Ruy - Não. Acho que o futebol está ótimo e grandes jogadores surgem o tempo todo.
7 Falando em pornografia - e que “O Anjo Pornográfico" tenha piedade de nós -, qual sua impressão sobre a “bolha” (se é que se trata disso) dos livros de garotas de programa e afins? Você tem vertigens ou eles servem para amestrar orgasmos?
Ruy - Não tomo conhecimento. De tempos em tempos inventam um tipo de livro para vender muito. É livro de auto-ajuda, romance de cantor de rádio ou de entrevistador de televisão e, agora, livro de puta. No ano que vem, será outra coisa. Eu apenas faço o meu negócio e não fico preocupado com o negócio dos outros.
8 Você é daqueles que às vezes precisa se policiar e dizer “opa, chega de saudade” ou acha que as transformações sacro-web-mundanas são arrebatadoras e sem elas não há pai que vire mãe?
Ruy - Não tenho que dizer "chega de saudade" porque não sou saudosista. A internet tem coisas boas, uma delas o Google, mas nenhuma é sagrada. Já vivi sem, hoje vivo com e, se precisar, vivo sem de novo.
9 E o poder? Tudo bem que de mau humor não dá, mas não tá muito de bom humor pra pouca graça?
Ruy - Estou por fora. Há exatamente 17 anos não voto em ninguém.
10 Já pensou num Big Brother com Nelson Rodrigues, João Gilberto, Garrincha, Carmen Miranda, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e o Rondinelli tomando banho de pau duro???
Ruy - Tem muito homem e só uma mulher nesse Big Brother. O que você está insinuando?
Ruy Castro Nasceu em 1948. Começou como repórter em 1967, no Correio da Manhã, do Rio, e passou por todos os grandes veículos da imprensa carioca e paulistana. A partir de 1990, concentrou-se nos livros. Publicou, entre muitos outros, as biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, e obras de reconstituição histórica, sobre a Bossa Nova, Ipanema e o Flamengo. É cidadão benemérito do Rio de Janeiro. (É assim que Ruy Castro é apresentado no site da Companhia das Letras).
As principais obras de Ruy Castro
Chega de Saudade: A história e as histórias da Bossa Nova (1990)
O Anjo Pornográfico: A vida de Nelson Rodrigues (1992)
Saudades do Século 20 (1994)
Estrela Solitária: Um brasileiro chamado Garrincha (1995)
Ela é Carioca (1999)
Billac Vê Estrelas (2000)
O Pai que era Mãe (2001)
A Onda que se Ergueu no Mar (2001)
Carnaval no Fogo (2003)
Flamengo: Vermelho e Negro (2004)
Amestrando Orgasmos (2004)
Carmen: Uma biografia (2005)