Esvaziamento (outra versão) – Texto de Dudu Oliva

Conto de Clarice Lispector (ONDE ESTIVESTES DE NOITE. Editora Rocco, 1999) narra a história de uma amizade e sua deterioração. O conto narra, em primeira pessoa, a história de dois amigos que se separam sem que haja uma briga ou traição. Separam-se simplesmente por não mais haver afinidade e pelo empobrecimento da relação entre eles. Contudo, ainda se gostam. Mostra que a amizade precisa ser cultivada, não sendo necessária apenas a presença física, mas a proximidade existencial para manter o relacionamento.

Destaquei alguns trechos importantes que explicam o título (Esvaziamento):

“Já nesse tempo apareceram os primeiros sinais de perturbação entre nós. Às vezes um telefonema, encontrávamos-nos, e nada mais tínhamos a dizer .” (pág. 77)

“… Que rebuliço de alma. Radiantes arrumávamos nossos livros e discos, preparávamos um ambiente perfeito para a amizade. Depois de tudo pronto, eis-nos dentro de casa de braços abanando, mudos, cheios de apenas amizade.” (pág.78)

“ Se ao menos pudéssemos prestar favores um pelo outro. Mas nem havia oportunidade, nem acreditávamos em provas de uma amizade que delas precisava. O mais que podíamos fazer era o que fazíamos: saber que éramos só amigos. O que não bastava para encher os dias, sobretudo as longas férias.” (idem)

“... Sabíamos que não queríamos nos rever. E sabíamos também que éramos amigos. Amigos sinceros”. (pág. 79)

No final do conto, mesmo continuando amigos, os personagens vão por caminhos diferentes. Isso pode acontecer em qualquer relação afetiva. Mesmo havendo sentimento, a angústia da existência de desejar algo mais, como a procura de uma identidade e novos caminhos, separa as pessoas.

Embora distantes, os dois continuaram amigos. Ao final, preferiram a distância física a ter que conviver com a hipocrisia de um relacionamento vazio e medíocre.

Esse conto me marcou bastante, porque já tive a experiência de esvaziamento e não conseguia definí-la, mas a sentia.

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OFF

Ao reler este texto percebi que cometi micos horrendos, como citar Sartre sem ter lido um livro completo dele. Só consultei um, que fala sobre a sua teoria. Juro que nunca mais escreverei sobre pensamentos que não conheço profundamente. Prefiro escrever pouco e ser autêntico a citar superficialmente. Sinto-me vazio e um mentiroso.

E-mail: dudu.oliva@uol.com.br

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