Na última semana um assunto estourou. Não foi como uma bomba porque grande parte da imprensa resolveu ignorá-lo, com receio de tocar na ferida.
Tudo começou quando a jornalista Fabíola Reipert, da coluna "Zapping" do jornal Agora e da Folha Online, publicou em 25 de junho que o programa Fantástico estava negociando uma entrevista exclusica com um jogador de um grande clube paulistano, disposto a revelar sua homossexualidade.
No dia seguinte, no "Debate Bola" da TV Record, perguntado sobre um possível atleta gay no elenco palmeirense, o diretor administrativo do Palmeiras, José Cyrillo Junior, teve a infeliz colocação de que Richarlyson, volante do São Paulo, não atuava no clube.
Prontamente, a assessoria jurídica do jogador avisou que moveria ações contra o cartola. Cyrillo, ao pedir desculpas publicamente, livrou-se de uma ação penal, mas responderá a uma ação cível.
Meses atrás, o diário Lance! fez insinuação velada e grosseira em uma capa ilustrando Richarlyson (manchete: "Que time é teu?", 16 de abril). O site Globoesporte.com, que teve a melhor cobertura do assunto - que a TV Globo ignorou - também já aprontou: "Richarlyson vai comprar revista de Ana Paula", publicado dia 20 de junho, sobre a assistente de arbitragem que posará nua.
Contada a história, vamos refletir. A imprensa esportiva brasileira não está preparada para encarar esse fato. Mexeu na colméia, mas não sabe o que fazer com o enxame. Agora, jornalistas torcem para o assunto acabar em pizza, o cartola ser processado e o suposto jogador continuar calado. Porque, do contrário, terá que tomar posição. E, óbvio, será de apoio ao atleta e negando o preconceito. Provavelmente, porém, negando o que pratica.
Todo esse conflito motivado pela homofobia. Eu mesmo me deparo com a homofobia todas as segundas-feiras, no programa "Ritmo do Esporte", da 94FM, em que sou comentarista. Acabo dando risada com as perguntas de duplo sentido que os colegas lançam aos convidados, não condeno (o mundo precisa de bom humor), mas fico à margem.
O que mais me preocupa, porém, é que desde a insinuação irresponsável do Lance! até a afirmação infeliz do cartola palmeirense e a repercussão, a família de Richarlyson viu-se obrigada a se manifestar, como se tivesse que se explicar.
Pegou de supetão a pobre mãe do jogador, despreparada para lidar com o assunto, afirmando que o filho não tinha "esse problema". Despreparada também a imprensa, insistindo em usar o termo opção sexual para o que é, na verdade, orientação. Ou alguém escolhe ser gay para encarar o preconceito que vem a reboque?
A ferida está aberta, na marca do pênalti. A hipocrisia irá defender o chute?
Leia matéria do globoesporte.com:
http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/0,,MUL55623-4286,00.html
Leia nota da Folha Online:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/zapping/ult3954u306897.shtml
E-mail: fernando_bh@yahoo.com.br