O conto sintetiza os problemas culturais e sociais de Cuba na Ditadura de Fidel Castro e quebra paradigmas. Mostra como o homem contemporâneo e a realidade cubana são contraditórios e fragmentados. A história narra o encontro conflituoso e de amizade entre Diego, homossexual e intelectual Cubano, e David, membro do partido comunista cubano. O narrador está em primeira pessoa e quem conta os acontecimentos é David.
O homossexual Diego mostra um novo olhar ao narrador, o mundo não é de
um maniqueísmo simplista Capitalismo X Comunismo. A partir dele, David
aprecia o fruto proibido que são os livros renegados pela Revolução Cubana, o sorvete de morango e os prazeres de uma saborosa comida, que
são conseguidas na maioria das vezes ilegalmente.
Quer mostrar o conhecimento a ele e dar dicas para que o partidário do partido comunista e aspirante a escritor melhore o seu texto, e que tenha uma rica carga de leitura também (principalmente de autores de vanguardas e pensadores complexos), para ter uma formação cultural ampla e que o ajude a desenvolver as idéias melhor, tornando-o um escritor consistente.
No ponto de vista da revolução cubana, Diego pertence ao velho e decadente segmento da sociedade capitalista e o novo homem são os
filhos da revolução. Contudo, esta idéia é rompida na história: o verdadeiro homem novo é aquele que não segue dogmas religiosos e políticos, vive livre e sem preconceitos.
Na minha opinião, o conto tem aspectos em comum com Um artista Aprendiz (Autran Dourado, principalmente em relação à discussão sobre
arte). Neste romance brasileiro há nas primeiras folhas uma citação de
Goethe (Os anos de aprendizagem de Wilhelm Meister): "Cada um tem sua
felicidade nas mãos como o artista a matéria bruta à qual ele quer dar forma. Na arte, só a capacidade é inata: é preciso aprendizado e acurado exercício".
O escritor Autran Dourado contextualizou em seu romance várias questões atemporais sobre arte e literatura. Para o personagem principal João, a arte faz refletir, nunca deve ser usada para exercer dominação, causando um empobrecimento intelectual. A literatura que ele pretende fazer sobrepõe qualquer ideologia dominante. É a sua expressão mais verdadeira.
Senel Paz trabalha bastante com intertextualidade com outros autores,
apontando novos caminhos para a literatura do país. O autor nasceu em
Santi Spiritu, interior de Cuba, em 1950. Pertence à primeira geração de cubanos formada pela revolução. Ele é testemunha dos momentos mais
repressores da Revolução.
"Os meios artísticos não escapam a um certo desencanto, embora a
explosão cultural da década de 90 - literatura, música, pintura e cinematografia, sob a égide do Instituto Cubano das Artes e Indústrias
Cinematográficas (ICAIC) - tenha propiciado uma grande abertura por parte da União Nacional de Escritores e Artistas (UNEAC). Nasceu uma nova e talentosa geração literária - Leonardo Padura, Senel Paz, Ena Lucia Portela, Abilio Estévez. A acumulação, embora ainda limitada, se desenvolveu, facilitada pela penúria, pela dualidade monetária e, principalmente, pela autonomia das empresas de turismo Para Estévez, essa geração dirige seu olhar para a sociedade, mas 'é um olhar cheio de amargura, cheio de ceticismo'".
Evocando a saudade do passado em sua obra, ele explica que isso se aplica à Revolução e ao catolicismo, "que sacrifica o presente em nome do Céu, do Paraíso, enquanto a Revolução sacrifica o presente em nome do futuro, que não me interessa. O que me interessa é como vivo hoje". **
A literatura cubana tem uma gama literária diversa, que expressa riqueza e complexidade do homem e do mundo. O título se remete a uma fábula que resume muito bem a história.
Referências
PAZ, Senel. O lobo, o bosque e o homem novo. Rio de Janeiro: Francisco
Alvez, 1994.
***http://diplo.uol.com.br/2004-06,a935
O conto teve uma versão cinematográfica: Morango e Chocolate.
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