As coisas andam difíceis. Foi difícil voltar a escrever. É difícil aceitar minha banda nacional preferida ruir. E a segunda, sumida. Difícil assimilar o Senado. Duro suportar o calor, complicada a TV aberta, chata a segunda.
Meu cantor preferido está imenso e repetitivo. Minha dupla favorita caiu no ostracismo. Minha musa das revistas envelheceu e só fala bobagens. Deus não dá um sinal.
Mas difícil mesmo é sofrer mais uma amarga derrota. E para o Palmeiras de estampa cítrica. Não dá. Difícil de dar dó.
Meus ídolos e ícones atravessam fases difíceis. Parece que combinaram: vamos nos unir para decepcionar em bloco aquele adulto de Bauru que passou a adolescência torcendo por nós. Deu a louca na turma toda.
Só resta torcer, sem qualquer poder de influência, para que Timão, Ira!, Los Hermanos, Guilherme Arantes e Sá e Guarabyra retomem logo o curso produtivo de suas vidas. Minha musa, não digo quem é.
Porém, se derem a volta por cima, suporto a segunda, a TV e o calor numa boa. Não praguejo o Senado. E serei grato ao Todo-Poderoso, mesmo sem Dele receber um mísero sinal.
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Algumas pessoas se revelam no msn. Ele quebrou inibições que durariam anos. Mas, cuidado: as palavras virtuais podem induzir a erros bem reais.
Nunca entrei em sites de bate-papo. Chego a admirar quem tem talento para encontrar gente estranha do outro lado e, em segundos, quase virar amante.
Esses contatos na grande rede seriam todos uma tola ilusão coletiva ou bálsamo bem-vindo à crueza do dia?
Bem, quem vive sem ilusão que atire o primeiro torpedo.
Em tempo: a média de amigos virtuais por aí é de 20. No Brasil, é de 46 por internauta. É o que mostra pesquisa feita em 16 países com 18 mil jovens de 8 a 24 anos, publicada pelo Jornal do Brasil. O Brasil ganha, inclusive, dos populosos Estados Unidos e China.
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“A Página do Relâmpago Elétrico”, magistral álbum de Beto Guedes, completa 30 anos em 2007. Ninguém lembrou. Eu também não. Mas esbarrei com o disco em casa e percebi a coincidência de data. Estão ali “Maria Solidária”, “Lumiar”, “Nascente”...
Renato Russo tinha um plano: gravar os mineiros. Não deu tempo. Acho que algumas canções ficariam espalhafatosas no vozeirão dele, mas seria bacana a releitura.
Legião Urbana vendia 200 mil cópias de CD a cada ano tempos atrás, já com o grupo morto e enterrado. Hoje deve ser bem menos, mas ainda é um fenômeno.
Certas canções são para sempre. Na minha imaginação ouço claramente Renato Russo empostar seu timbre de veludo no primeiro verso da primeira música desse disco de 1977. “Abre a folha do livro” / “Que eu lhe dou para guardar / E desata o nó dos cinco sentidos." Pense na música, pense em Renato: você vai gostar também.
Imaginar é, enfim, o que há no mundo de menos difícil.
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