As crianças são um tipo curioso de gente. Elas são cheias de vontades. Agora querem uma coisa. Daqui a pouco, outra. Sonham ser isso e aquilo, desistem logo, inventam outros desejos. Um dia, bem criança ainda, minha filha expressou seus planos para o futuro: seria cantora e vendedora de calcinhas. Incrível!
Na minha infância, eu queria crescer e ser médico. Vasculhava os livros ilustrados com pacientes abertos ao meio e homens mascarados debruçados sobre eles. Depois, mudei de idéia. Passou-me pela cabeça ser maestro. Logo eu: um desafinado, como dizem lá em casa.
Uma vez, e acho que foi só aquela, encorajei-me a domar leões. Orgulhei-me desse ímpeto. Mas hoje, imagine: pobres leões. O que são eles perto de nossos rugidos?
Nas guerras – declaradas ou veladas – mostramos nossa ferocidade, certamente assustadora a qualquer animal que a testemunhe.
Não há domador que nos deixe acuados. Insensatos, abocanhamos o mundo. Destroçamos a nós mesmos.
Em resumo, matamos, todo dia um pouco mais, os sonhos de crianças, o futuro de crianças e, o pior, as próprias crianças: as de hoje e também aquelas que fomos um dia.
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