Aquele Eurípedes, de mãos grossas e cabeludas, tamborila sem ritmo algum o verniz riscado da mesa da sala. De sua posição, vê-se quase inteiro o quarto dos dois meninos e da mocinha. Em curtos intervalos, leva à boca o cigarro de palha enrolado há pouquinho. Olha entretido para o cômodo onde dormem os filhos, um em cada cama, os colchões forrados com algodão. Nenhum dos três está em casa agora. Todos na escola noturna, aprendendo a escrita. Claro, a leitura também. Fossem eles para frente, que isso não é mais para seu bico. A essa hora, costuma ir tomando, de gole em gole, sem pressa de acabar, o café passado pela mulher depois da janta. A caneca verde de lata fumega até que a última gota desça já quase fria. De vez em quando, a primavera calorenta sopra uma brisa fraca. Mal dá tempo de suspirar por esse efêmero prazer, pois muito depressa o tempo aquieta-se outra vez. Lá fora, só mesmo um ou outro cachorro ladra, mais tarde as corujas também darão o ar da graça. Mas por ora é só isso mesmo: o Eurípedes tamborilando na madeira. (mais…)