Grenólio sentou-se na cadeira ao lado de um amigo e se posicionou bem
para ouvir o seu líder fazer o primeiro discurso da organização
recém-fundada. O presidente exaltou a união entre os membros e a
necessidade de a entidade se expandir para poder pleitear mais
benesses. "Só o crescimento nos dará maior importância e poder."
Na segunda reunião, havia o dobro de pessoas e Grenólio só conseguiu
sentar-se a muito custo. Na terceira, mais gente. Na seguinte, também.
Nosso personagem, fiel a seu compromisso com a organização, assistia a
tudo em pé, aturdido com o vozerio da multidão. Não havia mais
cadeiras para tanto bumbum.
Com o passar dos anos, a organização cresceu tanto que não encontrava
mais ambiente com espaço que pudesse comportar os militantes. Então, o
líder teve a idéia de publicar um jornal para os associados conhecer
as decisões. Para o trabalho, contratou um companheiro de lida, que
tinha pequenos lampejos de letrado. Não deu certo. O texto não saiu a
contento, com palavras erradas, raciocínio torto. As fotos, então,
verdadeiros borrões no papel. O presidente da entidade resolveu, após
incessantes reclamações dos leitores, contratar profissionais do ramo:
jornalista e fotógrafo.
Com o aumento de trabalho interno na organização, vieram depois
médico, economista, psicólogo, assistente social, pedagogo, sociólogo,
antropólogo, químico, engenheiro e até um cientista político,
diplomado em Yale e na Sorbonne. Estes profissionais passaram a rodar
em torno do líder como satélites conselheiros. Tudo o que fosse
decidido teria de ter anuência deles. A organização, sem intenção de
trocadilho, estava bem organizada, com pessoas ilustres e
profissionais em suas funções.
Grenólio não participava mais de reuniões, pois as mesmas não mais
existiam. Há anos não conseguia conversar com o líder e nem chegar
próximo a ele. Mas a organização era forte, seu poder retumbava como
trovão na sociedade. Ele, entretanto, não entendia porque a entidade
que ajudara a criar e a expandir não mais falava sua língua e os
interesses já não eram mais os seus, nem de seus iguais.
E-mail: otanunes@gmail.com
Tags: Conto, Otávio Nunes