Capítulo 1
O verão de 1962 foi de derreter os miolos. Pelo menos era isso que costumávamos ouvir com freqüência nas conversas preguiçosas dos vizinhos e conhecidos quando andávamos pelas ruas logo após o almoço. Não, isso não quer dizer que não havia chuvas. Chovia constantemente. As enxurradas encarregavam-se de trazer muita terra das encostas e despejá-la nas calçadas. Quando o sol ressurgia e as nuvens desapareciam do céu, lá iam os moradores, especialmente os comerciantes, com suas enxadas em punho, raspar os ladrilhos barrentos. Mas esse trabalho pouco adiantava, porque dali a algumas horas ou no máximo em dois ou três dias, o aguaceiro despencava novamente e a lama cobria tudo outra vez. Para nós, estudantes do quarto ou quinto ano, tanto os dias de sol como os dias de chuva representavam ocasiões para aventuras, às vezes bem sucedidas, em outras... (mais…)