No futebol, já tem jogador dizendo que daqui a pouco, ao fazer um gol, precisará pedir desculpas à torcida, ao árbitro, ao mundo… A comemoração, enfim, deve ser contida, respeitosa – talvez uma continência se o governo for militar, quem sabe uma leve inclinação corporal nas monarquias, uma oração nas nações mais religiosas…
O fato é que a sociedade, em todos os seus recantos, exige de maneira absurda que as pessoas se enquadrem a protótipos idealizados. É preciso dar uma satisfação conforme a expectativa da opinião pública. Sem dúvida, um exagero, uma invasão à individualidade.
Vi por estes dias também uma entrevista do jogador Elano no UOL. Entre outros temas, ele pede desculpas por ter feito sexo virtual. Nesse caso, a indiscrição da internet envolveu-o em sua complexa teia. O atleta da seleção brasileira diz, inclusive, que sua mulher o compreendeu – um argumento forte para que a opinião pública absorva de modo positivo a satisfação dada à sociedade.
Parece-me que atualmente inverteu-se o sentido de “dar satisfações”. A cobrança de explicações a respeito de um momento íntimo, como o do sexo (incluindo o virtual), é desproporcional, injusta e absurda quando comparada ao que se cobra de homens públicos que continuam fazendo o que bem entendem com nosso dinheiro e nossas instituições. Nem desculpas eles pedem. O Elano deveria poder dizer o mesmo que disse aquele deputado: "Estou pouco me lixando".
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