Diz que eleição é como futebol e carnaval: uma festa, mas deixa muita sujeira. Além do lixo comum – dos santinhos e todos os papéis produzidos para seduzir o eleitor, sobra também o entulho humano que assume as sagradas cadeiras públicas. Fora uns e outros que podem se contar nos dedos, a pergunta é inevitável e vem do sujeito desconhecido na porta do bar: como é que se consegue juntar tanta coisa ruim?
Até há pouco tempo, eu costumava olhar as listas para ver quantos tinham sido eleitos dos políticos que em tese representavam avanços. Era consolador encontrar os nomes deles. Hoje, decididamente, está mais difícil. Há poucas esperanças para se agarrar.
O que terá levado o eleitor a escolher nomes cujo passado conspira contra os básicos princípios de decência política? Seria falta de opções? Pessoas com a ficha limpa, assustadas com tanta podridão, estariam se afastando dessa frente? Foi uma forma de protesto que reflete o desencanto com mudanças esperadas que não vieram? O eleitor está desinformado? Os veículos de comunicação falham ao tentar cumprir seu papel?
Os estudiosos e suas pesquisas podem até nos esclarecer essas dúvidas, mas uma coisa é certa: em comparação à sujeira que fica pelas ruas ou entalada nos bueiros, o lixo que teve o respaldo das urnas é o que incomoda mais.
* O artigo acima foi publicado no jornal BOM DIA há algum tempo, mas o tempo aqui é secundário. Infelizmente, a crítica continua valendo.