Uruguai

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Li esta semana “Quem de nós – uma história de amor”, mais um belíssimo livro do uruguaio Mario Benedetti, um dos grandes escritores do século 20. Aliás, ele fez parte também deste século: morreu no ano passado, já aos 88 anos.

Escritores como Benedetti deveriam ter prazo de validade maior. Embora, claro, sua obra certamente o eternizará.

“Quem de nós” foi publicado na década de 1950, mas, como acontece com muitas das obras mais importantes da literatura, encaixa-se em qualquer tempo.

É o triângulo amoroso narrado pelos três protagonistas. Só um gênio como Benedetti poderia escrever um livro tão profundo e ao mesmo tempo tão direto e rápido.

Foi a primeira novela escrita pelo uruguaio. E por incrível que pareça a primeira versão brasileira só saiu em 2007 (Editora Record).

É dividida em três partes, cada qual escrita por um dos personagens: Miguel (o marido), Alícia (a esposa) e Lucas (o terceiro envolvido, que foi embora quando os amigos se casaram).

Apesar de ter achado “Quem de nós” ótimo, dos livros que eu li dele, o que mais gosto é “A trégua”. Este é da década de 1960 e a mais importante obra do autor.

Em formato de diário, narra a aventura emocionante de Martín Santomé, cinquentão viúvo que atravessa uma vida monótona desde que a mulher morreu, há mais de duas décadas.

A aproximação da jovem Laura Avellaneda, que trabalha como sua auxiliar no escritório, volta a iluminar seu espírito. O romance, cortante e irônico, é daqueles que prendem o leitor de maneira insuportável.

Uruguai 2
Eu tenho uma relação curiosa com o Uruguai. Acho que já fui uruguaio numa outra vida, num outro espaço de tempo, não sei, talvez hoje mesmo eu o seja, simultaneamente, numa dimensão que avança ao mesmo passo em que corre esta.

Não há explicação. É uma atração que se comunica sob uma névoa de injustificável nostalgia. Quando leio os uruguaios – gosto muito também de Horacio Quiroga, este ainda anterior a Benedetti, pois nasceu no século 19 -, essa sessão nostálgica se fortalece.

Nesta Copa, saibam todos, vou torcer também para o Uruguai. Sei que no futebol, este pequeno e romântico país perdeu sua pegada, mas se houver um cruzamento entre a velha Celeste e o Brasil, deixarei que o impasse da torcida se resolva debaixo daquela névoa capaz de juntar duas dimensões. Entretanto, quando o jogo acabar, independentemente do resultado e da dimensão, estarei satisfeito.

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