Ser jornalista esportivo é fácil. Imagino que muitos colegas caíram de paraquedas em editorias de assuntos fora de seus repertórios. No esporte, invariavelmente, o cara manja (alguns pensam que manjam, mas a seleção natural dá conta deles). Aí, vira moleza colocar no papel (no microfone, na web, enfim) todo o seu entusiasmo.
Difícil, e é disso que venho falar, é ser jornalista esportivo à paisana. Nas conversas com os amigos, cobram-nos coerência! Como se eu não torcesse para um time, não xingasse juiz, não tivesse meu ídolos. Eu vou além disso. Gosto de boas histórias, jogadores que decidem rumos de partidas, que se apoiam, muitas vezes, mais no carisma do que no talento. Os de talento, então, defendo até a morte!
Coerente seria dizer que Milito, atacante da Internazionale-ITA, joga muito mais bola do que Palermo (aquele dos três pênalis perdidos em um único jogo). De corneta na mão, sou Palermo e não abro! O cara berra, arranca a camisa, dá o sangue… De quebra, fez o gol que colocou a cambaleante Argentina na Copa! Definitivamente, gosto de personagens.
Edmundo, Romário, Djalminha, Adriano, Edílson Capetinha, Robinho… A lista de bad boys é longa. O que fizeram (ou fazem) supera qualquer falta ao treino, notinha policial ou gole exagerado. Definitivamente não casariam com minha filha, mas jogam no meu time. Kaká, apesar de tamanho talento, é carisma zero. De seu estilo picolé de chuchu brota meu medo de fracasso brasileiro na África do Sul.
Dentro desse ‘paixocínio’ (permita-me o termo novo), Ronaldinho não pode ser preterido por Dunga. Imagino ele, a Copa toda no banco – também não sou lunático de querer o dentucinho do Milan titular – e entrando no segundo tempo da finalíssima. Falta na meia-lua, close no rosto concentrado, bola no ângulo e suas tranças voando pra galera! Alguém consegue sonhar lance parecido com Elano? Júlio Baptista?
Coerente seria dizer que Galeano foi um legítimo perna-de-pau. Charles Guerreiro idem. Júnior Baiano? O antifutebol em pessoa! Por outro ângulo: um salvou o Palmeiras em jogo de Libertadores, posteriromente vencido nos pênaltis (sobre o Corinthians, em 2000); outro fez seu primeiro gol com a camisa do Flamengo chapelando zagueiro e notabilizou-se por perder gol feito pela Seleção (sim!) em Wembley; Júnior Baiano, discordo de todos, sabia jogar bola, era um Domingos da Guia com alma de boxeador e passar sustos na torcida fazia parte de seu show.
Por isso, de corneta na mão, tenho certeza de que o Obina é melhor do que o Eto'o. Quero que o Muricy continue dando patada em jornalista. E que o Maradona seja bem-sucedido como treinador da Argentina (não necessariamente ganhando uma Copa, claro...), com toda a sua vibração e sua história errante, com sangue nas veias (se não foi Pelé em campo, expôs suas fraquezas como ninguém - e um homem sem máscaras merece vencer).
Portanto, se você me encontrar sem crachá, não me cobre coerência. Viaje comigo em brilhantes histórias. Lembremos de Serginho Fraldinha, Josimar, Macula, Odvan, Fábio Baiano, Oséas e tantos outros craques do avesso. E aplaudamos juntos as unanimidades, mesmo que sejam burras.
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