A casa onde nasci


Estava assim, há uns cinco ou seis anos, a casa onde nasci, no sítio. Hoje deve estar ainda mais velha e abandonada. Casas são como pessoas: quando sós, sem ninguém que as preencha, iniciam um processo de deterioração. Aos poucos, dissipa-se a energia que as percorreu por tão diferentes caminhos. A lenta implosão é apenas uma questão de tempo.

Às vezes, ao deparar-me com esta foto, tenho a sensação de que a casa me observa com um olhar terno, mas também entristecido, como alguém consciente da impossibilidade de que as coisas retornem a ser como foram um dia, mas ao mesmo tempo guardando, lá no fundo, um inevitável rancor contra o destino.

Esta é uma foto feita por algum parente de minha família que não me lembro agora. Quando a vi, achei-a de uma expressão extraordinária. Claro que há nessa sensação o componente emocional: eu nasci aqui. Mas a fotografia captou raios solares que parecem compor uma espécie de aura angelical sobre sua estrutura.

As janelas e portas da frente (à direita) evitam me encarar. Dali vem a tristeza e, quem sabe, o inconformismo diante do abandono. A ternura está na expressiva janela da esquerda. Embora solitária em sua parede, ela parece me dizer que compreende. Compreende a inexorável força do tempo. Para as casas. Para os seres humanos. Para tudo.

Ofereço para a casa onde nasci “Cavalleria Rusticana”, de Pietro Mascagni, italiano que morreu na década de 1940 e que por ter criado esta obra emocionante merecia que todos nós fôssemos cobrir seu túmulo com flores. No vídeo abaixo, está o intermezzo da ópera. O maestro é, segundo o Youtube, Riccardo Muti. Festival de Ravenna, 1996. Orquestra del Teatro Comunale di Bologna.

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