Tenha modos, mocinha

A primeira e última vez que almoçamos juntos foi numa cantina simpática, de comida saborosa, como me haviam indicado. Antes, um potinho de azeitonas, que ele comia e cuspia os caroços, direto da boca para o prato, fazendo barulho. Chegaram os pedidos e, com a língua, ele ajudava a tirar a comida dos dentes. Falava enquanto mastigava e, justiça seja feita, eu até conseguia entender alguma coisa do que ele dizia. A bebida terminou e ele chupou o gelo, tentando sugar o líquido derretido. Eu não quis sobremesa, ele pediu uma fruta. Me levantei, paguei a minha parte e saí sem dizer nada, com um vago gesto de despedida. Mais tarde ligou e me chamou de mal educada pela minha saída intempestiva. Tinha pensado em me levar a um restaurante fino, para eu conhecer pratos e pessoas sofisticados, mas receava que eu repetisse minha atitude daquela tarde e preferia não arriscar, afinal conhecia do chef aos garçons, e não podia aparecer com uma pessoa como eu. Desligou e nunca mais nos vimos.

3 Responses to “Tenha modos, mocinha”

  1. Ana, conto preciso, econômico e preciso. É tão bom quando nos achamos risíveis… Somos mesmos, não é?

    Abraços,

  2. Zilena m. Costa disse:

    É Ótimo!!
    Que bom que ele não mais a convidou,
    parabéns, um abraço.
    ZI.

  3. maury ferreira saldanha (primo da Cintia) disse:

    Interessante o conto. Entendi dele que as pessoas, quando agem como são, provocam reações agressivas, pois fogem aos padrões sociais, e muitas vezes deixa-se de conhecê-las, verdadeiramente, sem “mascaras”.