Ele era brilhante.
Poucas vezes as pessoas que passam diante da igreja ou mesmo aquelas que entram sentiram-se tão admiradas. Ele estava ali naquela tarde em que a sombra da torre de concreto já tomava metade das escadarias.
Seu olhar era tranquilo e atento. E passava aos fiéis a sensação de um estranho bem estar. Parecia mesmo sorrir para as pessoas, embora não o fizesse. Alguém pensou: “olho para ele e não sinto a opressão e até o medo que às vezes tenho de alguns pastores”.
O sol escondeu-se atrás do prédio. As escadas assombreadas encheram-se de passos. Todos observavam aquela figura cuja imagem imponente, logo à porta do templo, transmitia um quê de bondade. Os fiéis, sem perceber, sorriam para si mesmos.
À hora da palavra, os últimos crentes em Deus, os últimos tementes a Deus, os últimos filhos de Deus, os últimos que chegaram, estes persignaram-se sob seu olhar. Ninguém o convidou para entrar. Fecharam-lhe a porta na cara.
E ele desceu os degraus com a mesma cara tranquila, com o mesmo olhar atento, e foi sentar-se à porta de um bar qualquer, onde um bêbado qualquer o chamou de um nome qualquer e atirou-lhe um osso qualquer.
*** Homenagem a um lindo pastor alemão que vi hoje ao entardecer.