“Se Deus existir, penso que pouco se lhe dará se eu
afirmar ou negar sua existência. Não será a minha crença que irá
criá-lo, nem ele deixará de existir se nele eu não crer.”
Luiz Vitor Martinello acaba de lançar mais dois livros: “Poemas da quase religiosidade” e “Gosto dos dias de muito sol (só pra ficar na sombra)”. Seria redundância falar da qualidade e da pegada poética do escritor bauruense. A história de Luiz Vitor, que na década de 1970 começou com tudo na chamada poesia marginal e que lá pelos anos 1980 causou polêmica nacional com o poema “Final Feliz, Natal!”, é rica em versos, sátiras e emoções.
Comprei os dois livros e não os li numa tacada só porque fiquei com pena de acabar logo duas obras deliciosas. Enfim, não deu para esperar muito e no outro dia, fechei a leitura. Claro que a boa literatura, especialmente a poesia, nunca se esgota, mesmo depois de lida. Ela vai, aos poucos, colando em nossa alma e nossa alma vai, aos poucos, absorvendo sua grandiosidade.
São dezenas de poemas que falam principalmente do cotidiano, universo ao qual Luiz Vitor dedica-se com profundidade. É curioso que alguns de seus escritos não passam de duas ou três linhas, e mesmo assim, mesmo breves, são capazes de nos levar às profundas de sua fabulosa engenhosidade. Algo que também me atraiu bastante é a abertura de “Poemas...”, o que ele chama de intróito e intitula “Qualquer palavra”.
Nessas linhas, o poeta traduz rapidamente e com incrível capacidade de síntese sua relação polêmica com o Todo-poderoso. Num livro de poesia, a prosa inicial faz de Luiz Vitor Martinello um filósofo da palavra fácil, compreensível e, diga-se, madura. Madura para um cara que brigou com Deus (quando o filho morreu) e que agora, num gesto de generosidade, é até capaz de dedicar-se a reverências se cruzar com o ex-inimigo do mesmo lado da calçada.
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