Apoiou o cotovelo no balcão, virou a cabeça para um lado e para outro como quem faz uma breve sessão de relaxamento. Tirou a blusa e amarrou-a ao pescoço. Foi pedir uma cerveja. O garçom, entretido com a televisão instalada no alto da parede, não percebeu o cliente. Ele mesmo, o cliente, foi atraído pelas cenas fortes. Não entendeu bem o que o apresentador dizia, mas também para quê?
O garçom, confundindo pedidos, trouxe-lhe um uísque barato, desses que parecem ser generosos mas na verdade são apenas gotas no meio do gelo. Ele, mal lembrando-se do que queria tomar, levou a bebida à boca. O apresentador parou de falar. No intervalo, animou-se com a bunda na telinha e por isso lembrou-se da cerveja.
Um carro freando bruscamente bem em frente ao bar cortou-lhe a intenção de queixar-se ao garçom. O garçom espiou lá fora: todo dia alguém é atropelado nessa esquina. O segundo gole do uísque desceu arranhando a garganta e ele pensou que talvez fosse melhor deixar a cerveja pra lá. Tragédia tem em todo lugar. Não soube direito se o comentário foi dele ou do garçom.
Parece que foi grave. Alguém sentou-se ao seu lado e pediu ao garçom a cerveja de todo fim de tarde. Nisso, ouviu o apresentador dizer a palavra escola. Isso ele pôde compreender. E daí lembrou-se do filho que voltava da aula naquele horário. Um frio estranho meteu-se em seu estômago. Sem pagar a bebida, levantou-se e correu para a rua. Afinal, podia ser seu filho.