Há um conceito já bastante difundido mesmo entre críticos de cinema: não são necessárias grandes produções para se fazer um bom filme. Muitas vezes, a sensibilidade e a naturalidade garantem um resultado favorável. Principalmente quando obras que se apoiam nesses requisitos são vistas por um público não dependente de tiros, bombas e explosões. “Como eu festejei o fim do mundo” é assim.
Está certo que o filme tem a produção executiva de dois monstros do cinema – Wim Wenders e Martin Scorsese -, mas o que mais contribui para sua eficácia é mesmo o mergulho no cotidiano da Romênia dos anos 1980. Tudo começa quando uma garota de 17 anos e seu namorado quebram um busto do ditador Ceausescu e ela é enviada a uma espécie de reformatório.
O drama de um país envolvido pelo atraso e pela falta de perspectiva transparece em pequenos episódios de seus personagens. Mas o diretor Catalin Mitulescu soube evitar que o filme se transformasse num retrato pesado daqueles anos terríveis para o povo romeno.
E isso foi possível graças ao olhar de um garotinho, irmão da protagonista, que em sua ingenuidade (afeita a todos os meninos do universo, vivam eles em democracias ou em ditaduras) planeja matar o ditador Ceausescu. Uma das cenas finais, quando os amigos do garotinho vibram pensando que ele conseguira o feito, ilustra esse tom leve e hilário que se mistura com a atmosfera lúgubre de um povo subjugado.
Exagerou – Eu não tinha visto ainda “Aparecida, o milagre”. E acho que só peguei na locadora porque leva a assinatura de Tizuka Yamasaki. Dificilmente, esse tipo de obra consegue encaixar o tom. E a velha e boa Tizuka também não conseguiu. A história, ao contrário do que possa parecer, é até boa. Mas a maneira como o homem cético (Murilo Rosa) é tocado pela fé decepcionou e ficou parecendo novela das seis. Enfim, não é ruim. Mas faltou, talvez, uma isenção maior.
Alerta máximo – Só agora vi “A rede social”. Um filme inteligente e revelador sobre a atual geração humana – pessoas cujos escrúpulos fugiram completamente ao seu domínio. Pessoas, paradoxalmente, pedindo socorro sem que alguém possa ouvi-las num universo habitado por milhões de pessoas: o universo das silhuetas, onde as pessoas se escondem das pessoas.