John Updike, morto em 2009, foi um craque da literatura norte-americana. Não é à toa que ganhou duas vezes cada um os principais prêmios dos EUA, o Pulitzer e o National Book Awards. “Cidadezinhas” (Companhia das Letras, 2004), que ganhei da jornalista Cristina Camargo, foi seu último livro.
Quando terminei a leitura, na semana passada, fiquei com a impressão que as crianças deveriam ter quando o avô começa a contar uma história só para fazê-las sossegar, mas uma história que vai ficando irresistível em seu decorrer.
O livro começa chato, chato. Updike é um conhecedor minucioso do homem americano de classe média. E faz de gato e sapato esse objeto humano, situando-o no século 20, aprofundando-se em suas fraquezas com fina ironia e tirando dele exemplos de histórias tão cotidianas e simples que nos leva naturalmente para os recantos curiosos, engraçados, emblemáticos e picantes das cidadezinhas por onde ele passeia com sua escrita fundamentada também em sua própria experiência: vítima de psoríase, com vergonha da doença, ele deixou Nova York para morar no subúrbio junto com mulher e filhos.
Um dos aspectos mais bem desenvolvidos em “Cidadezinhas” é a sequência de experiências sexuais do protagonista. Por meio dessa que é uma das linhas mestras do livro, Updike conta a história de Owen, um pequeno empresário da área de tecnologia que vive sob amarras culturais e familiares de seu passado e aos poucos experimenta uma profunda transformação pessoal e social em grande parte definida pelo avanço de suas relações no sexo.
A história americana, de guerras e desenvolvimento, de avanços e hipocrisias, de tradição e renovação, essa história tão complexa cai em nosso colo de modo irônico e erótico. Talvez principalmente esses dois aspectos equilibrem o romance de modo atraente ante à profundidade que a leitura propõe e que nem sempre estamos dispostos a enfrentar.
Tags: EUA, John Updike, Literatura, Livros