O escritor norte-americano Philip Roth (Foto reproduzida do site da editora)
“Nêmesis” (Companhia das Letras, 200 páginas), livro mais recente de Philip Roth, se passa em 1944 durante um surto de poliomielite em Newark (EUA), cidade natal do autor. Uma obra tão paralisante quanto a doença para a qual ainda não havia vacina naquela época, em plena Segunda Guerra Mundial. Comprei o livro no sábado após o almoço e antes do almoço de domingo eu já o havia devorado.
Sou suspeito para dizer, mas pra mim Philip Roth é um dos maiores gênios da literatura mundial de todos os tempos. E aqui cometo uma certa heresia em relação aos meus próprios princípios – porque acho terrível eleger alguém a qualquer posto de melhor isso, melhor aquilo: talvez ele seja o maior romancista vivo. Claro que não é por causa de “Nêmesis”. Mas também.
A narrativa dele é seca, direta. Sempre que o leio, me lembro da famosíssima regra de Graciliano Ramos: ao escrever, faça como as lavadeiras que torcem a roupa molhada até que ela fique bem enxuta. Para Philip Roth, não é preciso inventar grandes peripécias literárias. Ele simplesmente começa a narrar e vai em frente. Não rebusca. Não foge de sua estrada. Apenas vai em frente, nos guiando para um destino que queremos descobrir desesperadamente. É assim que me sinto ao ler “Nêmesis”, “A Humilhação”, “Indignação”, “O animal agonizante” e por aí afora.
Sinceramente não sei quem poderia imaginar fazer um romance a partir de um surto de poliomielite. A ideia, de cara, parece ser ruim. A pólio hoje é tratada quase apenas em tom infantil, com o bom humor daqueles bonecões que brincam com as crianças. Mas nos idos dos anos 1940, quando ainda não se tinha remédio para combatê-la (a vacina só foi descoberta na década de 1950), sua presença causava grandes estragos. “Nêmesis” recria claramente esse cenário, um inferno que durante os surtos chegava a preocupar mais do que a própria guerra.
Então, Philip Roth cria o Sr. Cantor, um protagonista jovem, vigoroso, atleta, que dá aula de educação física para garotos de onze, doze, treze anos de idade. Embora a doença atingisse também adultos, sua maior incidência era entre o público infantil. E ela chega para começar a devastar a cidade e a matar seus alunos. Todos tivemos amigos nessa idade, todos tivemos professores dos quais gostamos, momentos bons e ruins dos quais nos lembramos. Não é possível ficar imune à emoção que trespassa o livro, às crises reflexivas do protagonista, ao amor que ele nutre por uma jovem professora que está distante e que teme por ele. À circunstância que insiste em levá-los para a tragédia.
Para saber mais sobre o livro, no site da editora, clique aqui
Capa do livro publicado pela Companhia das Letras
Tags: escritores, EUA, Literatura, Livros, Philip Roth, Segunda Guerra
Curiosíssima para ler! Belo comentário, parabéns e bjs!