Lanzmann ainda jovem (à esquerda) acompanhado de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre na capa do livro
Um coronel do exército polonês, ex-agulheiro auxiliar da estação de Sobibor, um dos campos de extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, contou “que certa vez, quando fazia a vigilância noturna, bateram energicamente na janela, um ucraniano que lhe pareceu imenso exigiu um litro de vodca oferecendo em troca um pacote pesado e fedido, toscamente enrolado em jornal. Ele não teve como não aceitar, disse, e se pôs a vomitar ao abrir o pagamento de sua garrafa...” Tratava-se de “um maxilar sanguinolento contendo dentes de ouro”, retirado do cadáver de um judeu que fora levado recentemente para a câmara de gás. A passagem está em “A lebre da Patagônia” (Companhia das Letras, 472 páginas), livro de memórias do intelectual francês Claude Lanzmann, uma fantástica viagem por diversas faces do século vinte a partir de sua riquíssima experiência pessoal. (mais…)