Há uma espécie no meio impresso que às vezes passa despercebida, principalmente nestes tempos de incertezas e rápidas transformações desencadeadas pelas novas plataformas tecnológicas. São os consultores espertos, aqueles que se aproveitam dos maus momentos alheios para ganhar a vida. Claro que há bons profissionais nas consultorias, mas aqui eu me refiro aos outros.
Feito um bando de urubus, pousam sobre a carniça e ali permanecem até esgotá-la. Depois, batem as asas e vão procurar novas vítimas.
É interessante notar seus hábitos. Geralmente, carregam sob sua empáfia o mesmo repertório pisado e repisado, o mesmo discurso vagabundo e preparado para ouvidos ansiosos por boas novas.
Eles já fizeram de tudo por aí afora. Ressuscitaram jornais que estavam na boca de falir. Revigoraram jornais que estavam na UTI. Salvaram jornais que não tinham mais esperanças. E por aí vai. Quase sempre são experiências distantes, difíceis de checar em sua essência. Na Espanha, tornaram um título líder de mercado do dia para a noite. Na França, como num toque de Midas, elevaram a tiragem de 2 exemplares para 1 milhão em uma semana.
As reuniões, geralmente observadas por empresários e executivos atentos e sedentos pela solução que até ontem lhes parecia ser impossível, reservam momentos inacreditáveis que poderiam ser divertidos caso fizessem parte de um desses seriados de comédia. Se der corda, eles revelam que na França, enquanto implantavam o tal projeto salvador, tiveram um encontro secreto com Nossa Senhora de Lourdes. E ali pertinho desenvolveram um plano para unir os povos da Espanha.
O mais risível é que eles parecem mesmo acreditar no que dizem. Parecem mesmo acreditar que são bons. Não pesquisam o público leitor das regiões onde vão atuar, desprezam as opiniões de quem conhece os mercados locais, tomam decisões baseadas em sua larga experiência na Europa, nos Estados Unidos, na Grécia Antiga.
Com seus nomes pomposos de reis, há momentos em que caem na própria armadilha. Num ato de condescendência diante dos pobres mortais, descem de seu falso Olimpo e resolvem tocar o projeto pessoalmente. Afinal, para sair bem feito é preciso que você mesmo faça. Grande ilusão! Fiasco total. Nada dá certo. Mas tudo é perfeitamente previsível. A incompetência aparece quando eles deixam o discurso e se entregam à prática. Não sabem nada. São vazios. Desagregam. Decepam equipes. Desvalorizam o produto. Metem, enfim, os pés pelas mãos.
Então, quando já brincaram de destroçar histórias construídas com o dinheiro dos empresários e o suor dos trabalhadores, inventam uma desculpa esfarrapada qualquer, pegam o boné e vão tirar férias no exterior, onde torram a grana fácil recebida durante meses e meses pelos dois dias de trabalho semanais. Sim, porque eles chegam na terça e vão embora na quinta. Dois dias cujas horas são desperdiçadas com comentários infantis e tentativas de mostrar que foram eles que descobriram a América.
No fim das contas, a culpa não é deles. Porque coveiros apenas fazem seu trabalho: enterram.
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