Eles namoram no cemitério. É lá que se amam. À beira dos túmulos pintados ou mal caiados. Quando a noite cai e o portão de ferro range sob a trava do cadeado, só a lua curiosa e os pequenos arbustos que circundam as ruas vazias os testemunham.
Testemunham a mútua contemplação, seu sossego e depois o frenesi. E de novo o sossego.
Ao longe, mugem as reses e ladram os cães, ruídos abafados pelos muros que aos poucos liberam o calor absorvido do dia ensolarado. A brisa do verão noturno espatifa-se nos vidros e paredes das capelas.
Cruzes mal postas balançam submissas às breves rajadas.
Quando olham o céu, uma estrela cadente desliza rumo ao sul. Apaga-se num piscar de olhos. Os reflexos de vidas esquecidas cavocam espaços etéreos, a fórmula de um desejo recai por um instante nas sombras.
Mas não há mais o que desejar.
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