Com todo o respeito de sempre às opiniões contrárias, acho uma grande bobagem essa história de ficar ligando o atual movimento das ruas a uma próxima eleição qualquer.
Vincular a importância das manifestações a um determinado resultado nas urnas soa ao velho espectro conservador e comodista que costuma marcar a política brasileira.
É exatamente o combate a esse estigma que me parece ser o principal aspecto da nova atitude que toma as ruas de todo o país.
Voto não é a única arma do povo.
Sempre tentam nos fazer crer nessa mentira, desmascarada agora nas noites radiantes de nosso outono. Vejam como é cômodo: votem bem, mas se errarem é só esperar mais quatro anos, como cordeirinhos, enquanto nós continuamos aqui com as sacanagens de sempre.
O voto neste momento é secundário. Completamente secundário.
A escolha de bons nomes em 2014, assim como em qualquer outra eleição, deve ser uma consequência das ações políticas da sociedade, e não o contrário.
Dizer que o atual movimento só terá resultado concreto se soubermos eleger bons candidatos é quase um desrespeito à verdadeira transformação por que passa o Brasil neste momento. A eleição deve ser o desaguadouro de um desejo popular construído exatamente em manifestações populares, se possível tão espontâneas quanto as de hoje.
Um voto não é capaz de formular um bom candidato, mas uma contínua ação política popular é capaz de construí-lo.
Aliás, eu pergunto: o que são bons candidatos? Um bom candidato para mim pode ser um mau candidato para você, e vice-versa. Claro, não estou falando aqui dos bandidos, fichas sujas e afins.
Quem aí nunca votou em alguém que tinha tudo para ser um bom político e, eleito, tornou-se uma decepção?
Pra mim, a eleição importa tanto quanto a pressão popular, a fiscalização constante, a cobrança, a atitude do eleitorado. Só assim o político, bom ou mau, vai pensar dez vezes antes de votar um projeto importante, antes de cair na tentação dos corruptos, antes de rezar na cartilha dos aproveitadores, antes de botar no nosso rabo, amém.
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