A sala dos sonhos

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Meus sonhos são impressionantes.

Esta noite sonhei, em seguida, que (1º) meu pai, já bastante velho e doente, havia recuperado a saúde repentinamente e estava brigando com minha mãe para ficar com um homem, e (2º) eu estava tão próximo de uma garota por quem fui apaixonado que tentei beijá-la, mas não pudemos concluir a operação porque nossas bocas estavam cheias de poeira, os dentes rangiam com aquelas partículas de areia.

Estes e outros sonhos estavam caindo à mesa, contados por cinco ou seis pessoas. Comentávamos as histórias relatadas e permanecíamos quietos por alguns instantes, como que refletindo sobre elas, até que mais um dos presentes se lembrasse de outro sonho. E assim estávamos.

A certa altura, lembrei-me de um sonho recorrente. E fiz um resumo a meus companheiros de mesa.

“Acontece”, eu disse a eles, “sempre obedecendo ao mesmo roteiro, é uma situação semelhante à nossa, há uma mesa grande e retangular instalada numa sala de certo modo escura como esta onde vários amigos conversam, embora não se trate de falar de sonhos, mas apenas sobre temas banais, desses a que todos costumam às vezes se entregar com prazer, sem compromisso, sem preocupações com isso ou aquilo, só mesmo o que chamam de papo furado.

“Todos os participantes encontram-se bastante à vontade, tomam uma bebida, sorriem e até fumam sem que isso incomode aos demais. Entretanto, num determinado momento, sem que se possa impedi-lo, um buraco negro, ao menos é assim que a coisa aparece no sonho, talvez uma espécie de vácuo do espaço ou do tempo, esse buraco negro, onde não há nada senão uma escuridão vazia, aproxima-se da mesa e, um a um, traga a todos.

“O mais desesperador é que o vazio os traga lentamente, e os demais, paralisados pelo terror, assistem boquiabertos ao espetáculo lúgubre até que, de modo inevitável, também eles sejam consumidos, desaparecendo por completo.

“No fim, apenas eu permaneço ali, inteiro, inatingível, talvez eu seja aquele sujeito que sempre deixam escapar para contar a história.”

Ao concluir a narração do meu sonho, meus companheiros, como sempre o fazem, prostraram-se em silêncio razoável, alguns sorrindo, admirados. A expressão de um deles, contudo, chamou minha atenção. Era o homem sentado à ponta da mesa.

Tinha espessas sobrancelhas negras que se juntavam uma à outra; os olhos, também negros, eram grandes e penetrantes. À sua frente, havia uma caneca de cerveja pela metade. A ponta do cigarro transformara-se em cinza e parecia queimar seus dedos sem que ele demonstrasse qualquer reação. Mantinha os olhos cravados em mim, olhos que aos poucos transmitiam ódio e pavor.

Foi com essa fisionomia de poucos amigos que ele se levantou abruptamente, derrubando a cadeira atrás de si, e apontou-me com o dedo em riste do qual pendiam ainda partículas da cinza do cigarro.

- Seu... seu desgraçado – ele gritou de repente.

E em seguida seus dedos, sua mão, seu braço começaram a ser devorados pelo próprio buraco negro sobre o qual eu lhes contara.

- Isto – ainda gritou-me – é um sonho! Você está nos matando, um a um...

E não podia mais falar. Sua boca acabava de ser tragada.

Bem, é isto. Quem aí quer ouvir meus sonhos?

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