Tínhamos enfrentado uma tarde pesadíssima naquele verão do ano 2000. Talvez uma das piores de nossas vidas profissionais. Havíamos participado de uma reunião em que foi feito o comunicado oficial do fechamento do jornal onde trabalhávamos. O nome até simboliza um pouco aquela data: “Dia D”, publicação que se seguiu ao “Diário de Bauru” por alguns meses.
Era a tentativa desesperada de evitar o naufrágio final. Mas não deu, como todos sabem.
Bem, resolvemos afogar as mágoas num bar da avenida Nações Unidas. Fomos para lá à tardezinha. Pelo meio da madrugada ainda restavam meia dúzia de profissionais inconformados com a peça que o destino nos tinha pregado. Já tínhamos falado de momentos marcantes, de situações engraçadas, de colegas, de entrevistados, de matérias, de furos, de capas, de fotos, de charges. Já tínhamos nos divertido com tantas lembranças! E chorado também.
A certa altura, falávamos de cinema e tentávamos lembrar o nome do ator de “Django”, filme de 1966, aquele em que ele chega ao vilarejo arrastando um misterioso caixão de defunto. Alguém disse Giuliano Gemma, mas não era. Esse era o Ringo. Surgiram outros nomes, mas nada. Não eram eles. Não eram! Assim, enquanto tratávamos de tomar a saideira número vinte e cinco, novos temas circularam pela mesa sob os olhares de faroeste dos garçons que desejavam que fôssemos embora.
Mas eis que num relance me veio o nome. Não sei quem estava com a palavra, mas eu a cortei com um berro: Franco Nero!!!
Ficamos alguns segundos em silêncio. Os garçons nos olharam como se fôssemos loucos. E então caímos na gargalhada geral.
Foi um grito que misturou raiva, satisfação e desabafo. Acho que tinha a ver com aqueles dias que estávamos vivendo, na antessala do fechamento do jornal que adorávamos fazer. Lembro que me senti mais leve. Quase feliz. Uma bobagem que nos fez rir em volta da mesa.
De vez em quando, essa história me vem à cabeça. E sempre me divirto com ela. Também gosto de contá-la quando posso.
Há momentos em que estou puto da vida com alguma situação e me pego falando em voz alta: Franco Nero!!! Como se fosse um mantra. Uma voz que vem de dentro e me salva de angústias. Franco Nero!!!