O ano de 2005 vai receber as energias do 7, o número ligado à reflexão, ao autoconhecimento e à espiritualidade. Pelo menos é o que diz a numerologia, a ciência mística dos números. Em outras palavras, as pessoas estarão mais dispostas a segurar o queixo sobre o punho cerrado para pensar na vida. E para meditar. E para mudar de idéia. E para tentar melhorar… (quem sabe?).
Ainda que você não acredite na numerologia, pense na simbologia do algarismo 7. Ela é mágica! Veja só: temos 7 dias na semana; há 7 notas musicais; o arco-íris ostenta 7 cores; havia 7 sábios na Grécia Antiga; Branca de Neve fez torta de maçã para 7 anões; o gato desfruta de 7 vidas; as fases lunares duram 7 dias; o mundo antigo conheceu as 7 maravilhas; o judaísmo consagra o candelabro de 7 braços, a Bíblia dedica 7 céus à hierarquia celestial e ainda garante que o templo de Salomão foi construído em 7 dias, assim como o mundo, quando o prólogo destaca que no princípio era o verbo e o verbo era Deus. A mesma Bíblia também preconiza os 7 pecados capitais. E esse artigo é dedicado a eles.
É pecado! - Me refiro à inveja, um sentimento universal e comum a qualquer mortal como a gula, evitado por alguns poucos como a soberba, tentador para muitos como a preguiça, impetuoso como a ira, sintomático como a avareza, e trancafiado no submundo da psique como a luxúria.
Confesso que a inveja sempre me intrigou. Por sua própria dualidade, ou seja, ao mesmo tempo em que escancara a face mais desprezível da humanidade, ela também é profunda, pois movimenta influxos interiores que brotam de maneira inesperada quando a auto-estima marca dez graus negativos na escala de Narciso e a felicidade de uns é quase acintosa para a miséria emocional de outros. Quer dizer: não é muito fácil controlá-la.
O curioso é que a inveja também é parecida com o lixo atômico: ninguém quer vê-la atracada por perto. E por quê? Porque ninguém quer ser identificado como invejoso. Ser invejoso é ser perdedor, vil, comum, fora do tom. É desejar o insucesso do outro pela própria incapacidade de triunfar.
Em tempos de invasão de privacidade, a inveja é cultivada por uma parte da mídia - e com a total cumplicidade do público. As revistas de fofocas, por exemplo, adoram estampar os altos e, principalmente, os baixos das celebridades de todos os naipes. Há quem vibre com a derrota alheia; há quem lamente seu desprestígio. Mas as revistas continuam vendendo - e bem!
Um detalhe interessante é que a inveja não se esgota no seu alvo. Também é preciso considerar o invejoso. Por baixo da aparente indiferença, ele alimenta nebulosos e destrutivos sentimentos em relação a si mesmo. Quer a derrota do outro por não ter alcançado a vitória sozinho. Quer que o mundo se solidarize com os seus infortúnios, seja seu companheiro na dor, esteja apto para ancorar o barco ao seu lado até que os ventos contrários parem de soprar.
Por outro lado, a inveja, que já foi exaustivamente estudada pela psicanálise, tem um botão vermelho que, quando acionado, reverte seu curso natural. Ela pode ser saudável quando forçar o invejoso a não jogar a toalha, incentivando-o a tentar um nocaute no próximo round.
Aperto esse botão todos os dias. Porque, pessoalmente, também tenho uma inveja secreta. Gostaria que o escritor russo Leon Tolstoi jamais tivesse escrito "A Morte de Ivan Ilicht", um diamante raro da literatura mundial. É ridículo, eu sei, mas gostaria de ter assinado o conto. E por se sentir invejado, Tolstoi consegue arrancar de mim os sete pecados capitais: cobiço seu talento, engulo sua obra com desatino, tenho ira quando constato sua perfeição na narrativa, preguiça de dizer para os outros o que penso da sua literatura, soberba por estar viva e assistir de camarote à morte lenta de Ilicht, e avareza, porque me recuso a emprestar esse livro até para meus melhores amigos. Faltou a luxúria? Por favor: isso é entre mim e Ivan.