Mesmo os menos interessados em futebol devem ter parado na última quinta-feira, 21 de junho, diante de algum telejornal para ver a festa da torcida do Grêmio durante a partida final da Taça Libertadores da América, disputada na noite anterior.
O time tinha poucas chances de conquistar o título, tanto que voltou a ser derrotado pelo Boca Juniors, da Argentina. Mesmo assim, os aficionados não arredaram seus pés do estádio e aplaudiram os vice-campeões. Arrepiante.
No Brasil, chegar em segundo pouco vale. Exceção feita às medalhas olímpicas, já que cada uma, seja prata ou bronze, é uma agulha encontrada num palheiro de muita esperança e pouca base educacional – que se reflete no esporte.
No futebol, porém, ser o segundo significa ter perdido para o primeiro e não ter superado os demais. Fica a marca da derrota. Por isso a reação dos gremistas é um marco. Calejados pela queda à segunda divisão nacional em 2004, aprenderam a valorizar cada êxito.
Nem o São Caetano, que surpreendentemente foi vice-campeão sul-americano em 2002, assimilou tão bem a perda do título. No caso deles, a frustração por quase tocarem o céu, mesmo tão pequenos, foi maior.
Vendo a festa que os gremistas fizeram, mesmo expostos à incontida euforia dos torcedores do rival Internacional, pude mudar uma opinião minha – sempre é tempo: quando o Brasil foi vencido pela França, na final da Copa do Mundo de 1998, achei na época desproposital a recepção que o presidente Fernando Henrique Cardoso organizou para os vice-campeões mundiais.
Às vésperas da reeleição, pareceu-me uma tentativa desesperada de minimizar a frustração do povo alienado que poderia se refletir nas urnas. Tive uma visão restrita.
Aquilo fora uma inédita tentativa de recompensar o esforço, a luta e, conseqüentemente, afastar a rotulação de culpados na (boa) campanha, principalmente naquele cenário de convulsão do craque Ronaldo e muitas interrogações.
Mais fácil foi receber Vampeta e cia. bêbados, quatro anos depois, ao som de Ivete Sangalo.
Afinal, a vitória embriaga e acomoda. A derrota ensina. Tanto que, de 1990 pra cá, alternamos tropeços e triunfos em Copas do Mundo. Que venha 2010...
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