Diz-se que quando um completa o outro igual feijão com arroz é porque a panela achou a tampa. A combinação perfeita no amor também se aplica a outros tipos de relacionamento. Quando amizade (mesmo que tumultuada) e talento se juntam, está feito o estrago no melhor dos sentidos: a audição.
É o caso da dupla Belmonte e Amaraí: talvez o mais lindo enlace entre duas vozes sertanejas. E que não eram só sertanejas: eram do bolero, da guarânia, da influência mexicana e paraguaia. Do country!
Eram vozes da rasgada sinceridade ("Desde Que Te Vi"), do sofrer exagerado ("Imcompreensão" e "Te Amarei Toda Vida") e da clássica nostalgia de "Saudade de Minha Terra" (composta por Belmonte e Goiá).
O fato é que, em seis discos, foram milhões de cópias vendidas. Milhões mesmo: só o álbum de estréia, em 1966, com "Saudade de Minha Terra", ultrapassou 1,6 milhão de cópias. Uma proeza para qualquer época.
Belmonte e Amaraí ajudaram a inaugurar uma nova fase na música do campo, com o uso de pistons chorosos, harpa, piano e bongô ao lado da viola e violão. Paschoal Todarelli (Belmonte), compositor inspirado nascido e enterrado na Barra Bonita, virou mito após sua morte em acidente de carro em 1972, em Sant Cruz das Palmeiras (SP), aos 34 anos. Em 2 novembro de 2007, completaria 70 anos.
Domingos Sabino da Cunha (Amaraí) nasceu em Rui Barbosa (BA), conheceu Belmonte em São Paulo e fizeram história.
Sessentão, Amaraí passou a se apresentar em feiras com o filho, Francis Jr. Atração da Grand Expo Bauru de terça-feira, 6 de novembro, Amaraí é a prova viva, límpida e afinada de que uma obra pode ser eterna.
Uma obra antiga que se revigora aos poucos com direito a comunidades na
internet e lançamento de novas gravações para seu respeitável e resistente público: os fãs da dupla Belmonte e Amaraí. Cujo brilhante trabalho conheci graças a meu pai.
A dupla acabou, meu pai se foi. Mas, como se vê (ou melhor, se ouve, no melhor dos sentidos), nem tudo morre com a morte. Não morre mesmo.
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