Quando o tempo ruim da seca se despedir submisso, quando a fumaça asfixiante de agosto se dissipar humilhada, quando a atmosfera embaçada desocupar o espaço das manhãs radiantes de setembro, quando tudo isso acontecer sem que nos dermos conta, então, outra vez, haverá a necessidade de acreditar. Acreditar que tudo passa. Acreditar que não há limites para nossas forças. Que dos becos imundos se erguerão homens limpos. Das ruas claras surgirão lampejos de consciência. Das janelas fechadas, pontas de cortinas apontarão sob os raios do sol laranja. Dos telhados cinzentos, descerá a fuligem morta. Detrás das ralas nuvens branquíssimas, o azul ficará pedindo, aos gritos se for preciso, pelo reconhecimento de nosso olhar. E do fundo do peito, perceberemos, enfim, que ali ainda há um sangue ejaculando.
No vídeo abaixo, "Manhãs de setembro" interpretada por Vanusa.