Dilma e Serra depois de votarem no domingo pela manhã
Ouvi os discursos de Dilma e de Serra após o resultado das eleições. Aliás, belas palavras. Como são bonitas as palavras quando elas podem ser ditas desacompanhadas de atos! Já dizia um velho amigo: “o ar tudo aceita, até mesmo nossos peidos”. Mas deixando de lado bobagens como essa, ambos parecem ter falado com o coração. Olhos úmidos.
E assim, após tão bonitas palavras, continua intacta a minha impressão sobre a proximidade de ideias e propostas desses dois lados que se opõem na política brasileira.
Enquanto Dilma falava como vencedora, eu fazia um exercício simultâneo às suas palavras: eu tentava imaginar os mesmos sons na boca de Serra. E, para minha surpresa, não foi um exercício complicado. Ao contrário. Parecia mesmo que Serra havia escrito o texto lido por ela (excluindo-se, claro, tantos elogios a Lula – a presidente chegou a chamá-lo de genial).
Depois, ao ouvir Serra, repeti o procedimento. Tentei imaginar Dilma derrotada lendo as mesmas frases do tucano. Mais uma vez, excetuando-se uma coisinha aqui outra ali, foi perfeitamente possível tal imaginação.
O fato é que tucanos e petistas estão muito parecidos. Não sei se as ideias dos tucanos aproximaram-se dos petistas por uma razão muito simples: Lula chegou ao patamar de beato e contrariá-lo seria loucura. Ou se os petistas ficaram quase iguais aos tucanos por outra razão do mesmo modo não muito complicada: uma vez no poder, tudo muda porque a estrutura do poder é tão viciada que é impossível modificá-la.
E por estarem tão parecidos os tucanos e os petistas, e desse modo também suas ideias e seus discursos, o que mais chamou a atenção durante o primeiro pronunciamento oficial da primeira mulher presidente do Brasil, transmitido ao vivo pelas emissoras de televisão, não foram os discursos, não foram as palavras, não foram os aplausos, não foram os papagaios de pirata querendo aparecer, não foram os olhos úmidos dos candidatos, mas uma outra coisa: Globo, Bandeirantes, Cultura, Record, Rede TV e outras emissoras focalizavam Dilma Rousseff. Mas o SBT mostrava Silvio Santos. Silvio Santos ensinando suas colegas de auditório a cantar a música do Baú. “Baú, baú, da felicidade; baú, baú da felicidade...”