Tem muita gente pedindo esmolas nas ruas. Agora há pouco, num semáforo, um garoto em cada vidro, cravaram-me aquele olhar submisso, quase uma mistura de vítima e culpado. Em outra esquina, um sujeito ameaçou encostar com sua cadeira de rodas, mas não deu tempo porque o sinal abriu. E em mais outro, uma menina.
Em cada um desses momentos fico pensando no que é certo ou errado. Pago meus impostos em dia. E não é pouco. Mas é impossível acelerar sem que as costas pesem um pouco mais, sem que o velho sentimento de culpa caia como aquela chuva boba que vai molhando sem que nos atentemos antes de estarmos em sopa.
Claro que não é possível dar dinheiro em toda esquina. Mas seria o caso de dar? Eu acho que não, mas também francamente não sei se meu pensamento está correto. Pago meus impostos em dia. Mas de que vale pagá-los se a maior parte vai para o bolso dos bandidos engravatados, se a corrupção e os desmandos encarregam-se de liquidar a fatura?
A verdade, esta sim eu conheço, é que as crianças que pedem esmolas nas esquinas ganham um brilho no olhar quando apanho uma moeda qualquer e faço-a escorregar até aquelas mãos encardidas. Mas, por outra, não será esse brilho no olhar algo mais importante para mim do que para elas? O que seria melhor para elas? O quê?
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Um pai pega os filhos para passear, dá presentes a eles, leva-os a um hotel e lá os mata e depois se suicida. Aconteceu em Jaú (SP). Ao menos essa é a versão obtida por meio de vários retalhos de informações. Há indícios de que foi uma espécie de vingança contra a mãe das crianças, de quem ele estava separado e talvez não se conformasse. Não é o primeiro caso em tais circunstâncias, é verdade. Mas há algo mais, algo terrível e assustador: o pai das crianças mortas teria enviado à mãe das crianças mortas uma carta avisando sobre o depósito que ele fizera na conta dela para pagar os velórios. Esse detalhe, teatral e mórbido, estica a corda no pescoço da humanidade até esgarçá-la.
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O deputado que enfiou o dinheiro na meia renunciou à presidência da Câmara no Distrito Federal. É uma farra, como diria um grande amigo meu.
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São Paulo faz aniversário hoje. Estou lá toda semana a trabalho. E assim acho que posso pitaquear sobre o esgotamento da nossa maior metrópole: é muita gente para pouco espaço. É só.