Li no fim de 2009 “Padre Cícero” (Companhia das Letras), biografia assinada por Lira Neto, o mesmo que escreveu a de Maysa. É extraordinário conhecer em detalhes a história de um dos maiores mitos brasileiros: Cícero Romão Batista, nascido no Crato (CE), em 1844. Padre excomungado pela Igreja, acusado de fanatismo, homem de muitas posses, e adorado por multidões.
O livro, que traz como subtítulo “Poder, fé e guerra no sertão”, é construído basicamente sobre cartas e documentos pesquisados por Lira Neto no sertão cearense, dioceses e bispados. Sem dúvida vale a pena, mas não esperem nenhuma narrativa tipo Ruy Castro, Fernando Morais. Lira Neto é mais durão; o texto, muito bom por sinal, avança sem ginga, mas chega lá.
Lira Neto não parece se prender a qualquer fórmula específica para conquistar o leitor. Ele o conquista pela crueza, assim como são as coisas no sertão. Mas isso não o impede de dar uma romanceada em muitas passagens. Aliás, como não fazê-lo? Não há para entrevistar mais quase ninguém que de algum modo tenha ligação direta com aqueles fatos incríveis que tiveram início há quase dois séculos. Incrível também é o trabalho de Lira Neto na reconstrução de mais um capítulo da vida brasileira ignorado, em sua riqueza de detalhes, pela historiografia oficial.
Minha cotação: bom
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