Ninguém sonha com ela. Ninguém a deseja diretamente. Mas, por bem ou por mal, todos de algum modo a querem. É simples: ninguém – ou quase ninguém – quer morrer. Vi outra vez o filme “Pelle, o conquistador” (Direção de Bille August, 1988, Oscar de melhor filme estrangeiro e Palma de Ouro no Festival de Cannes), com uma atuação excepcional de Max Von Sydow. Embora o título do filme remeta à história do menino (Pelle), o enredo é muito mais – aliás, quase todo – sobre o drama da velhice (no caso, do pai do garoto – Max Von Saydow). O drama da velhice à beira do descarte. Sua vulnerabilidade e falta de perspectiva.
Fico pensando se na hora da velhice, seus protagonistas, influenciados pelo temor de serem descartados, deixados de lado, tirados do caminho, não buscam forças extras para mostrar que ainda podem ser úteis, que ainda podem consigo mesmos, e até com outros.
Minha mãe, à beira dos 80, sempre foi dona-de-casa. Ela não quer nem discutir a possibilidade de ter uma pessoa para ajudá-la em seu cotidiano, uma empregada, uma secretária ou alguém para uma função semelhante.
Minha mãe segunda – minha sogra (sim, de verdade!) – contrata faxineira, mas não abre mão de fazer tudo que lhe garanta absoluta autonomia em seu cotidiano. Faz tudo para ela e também para os outros. Está certo que é bem mais nova, mas assim mesmo...
Acho que esse tipo de postura, além de carregar a essência de uma dignidade que não permite se esvair, mantém a esperança de que a escuridão não se aproxime durante a vida. Essa sim ninguém quer. Mas a velhice, ao menos hoje, acredito ser possível fitá-la com olhos cúmplices.