Quando eu tinha uns 4 ou 5 anos, fiz uma viagem de trem com minha mãe. O que eu mais me lembro da experiência é algo bastante inusitado: a visão assustadora do vão entre o vagão e a plataforma. Saber que ali embaixo havia um fosso, mesmo que fosse muito improvável alguém pisar no vazio e cair naquele “abismo”, era perturbador.
Quando eu saltei sobre aquele buraco, pedras e ervas daninhas me observando lá de baixo, e meu pai me apanhou com um abraço já sobre a plataforma, a sensação de segurança foi tão densa que jamais pude esquecê-la.
Em 2011, seria bom se eu pudesse carregar na memória todas as coisas boas que apagamos para dar espaço aos nossos medos e fracassos. Queria ter força suficiente para me lembrar somente das belas paisagens que vão passar pela janela. Gostaria de não olhar para os abismos. De ver a vida com mais prazer.
Também desejo o mesmo a você.
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