São muitos os filmes cuja trama envolve o jornalismo. Desde os lendários tipo “A montanha dos sete abutres” e “Cidadão Kane” até os emocionantes tipo “Os gritos do silêncio” ou os pragmáticos tipo “O jornal”, tem muita coisa boa. E ruim, claro. Mas hoje minha dica vai para quem gosta de ver encarnada no jornalismo a esperança de que sempre é possível estabelecer critérios justos na cobertura da notícia.

“Boa noite e boa sorte” (o título original é: Good night, and good luck) traz um elenco portentoso (David Strathairn, Robert Downey Jr., Frank Langella, Jeff Daniels, George Clooney) para narrar o combate titânico entre Edward R. Morrow (e sua equipe) e o senador Joseph McCarthy. Na realidade, Morrow, um dos grandes nomes do jornalismo mundial, começou a se destacar com transmissões de rádio durante a Segunda Guerra Mundial. Ele era ouvido por milhões de cidadãos americanos.

Depois, foi um dos pioneiros da televisão dos EUA e um dos grandes responsáveis pela decadência do macarthismo (termo referente ao senador McCarthy e à sua implacável perseguição aos supostos comunistas). É aí que entra o filme, dirigido por George Clooney. Mostra a luta de Morrow para que seu telejornal possa levar ao ar os dois lados da notícia, como manda o bom jornalismo. A pressão do lado oposto será inevitável. Jornalistas, estudantes de jornalismo e simpatizantes (rrsss) são obrigados (rssss outra vez) a assistir. Mas é filme para todos que ainda acreditam na ética e no homem.

Minha cotação: ótimo.

Forever

O comentário abaixo eu fiz para a TV TEM há um bom tempo, talvez uns dois anos. Por que será que ele não perde a atualidade? Vejam (está tudo em caixa alta – letra maiúscula – porque é assim que escrevemos na televisão):

DENÚNCIAS, DENÚNCIAS, DENÚNCIAS.// CORRUPÇÃO, CORRUPÇÃO, CORRUPÇÃO.// E TODO MUNDO LIVRE, AMÉM.// ATÉ QUANDO VAMOS REZAR ESSE TERÇO?// ATÉ QUANDO VAMOS SUPORTAR ESSA FARRA COM NOSSO DINHEIRO?// ESSA SACANAGEM NA NOSSA CARA?// ESSA BANDIDAGEM À NOSSA VOLTA?// O PIOR DE TUDO NÃO SÃO ELES – MENSALEIROS, SANGUESSUGAS, NAVALHEIROS OU TANTOS OUTROS.// NÃO É A CORRUPÇÃO DELES, NÃO É A CARA DE PAU DELES, NÃO É A IMPUNIDADE DELES!// NÃO, O PIOR DE TUDO NÃO É NADA DISSO.// O QUE DÓI MESMO É VER QUE ESSAS COISAS VÃO ACONTECENDO, VÃO ACONTECENDO, VÃO ACONTECENDO...// O QUE SERÁ QUE ACONTECEU COM A GENTE?// SERÁ QUE NÃO ACREDITAMOS MAIS EM NOSSA CAPACIDADE DE INDIGNAÇÃO?// SERÁ QUE NÃO APRENDEMOS A USAR OS INSTRUMENTOS DEMOCRÁTICOS PARA COBRAR O QUE É NOSSO POR DIREITO?// ESSA CORJA SEM ESCRÚPULOS QUE ASSALTA O PAÍS NOS FAZ A TODOS PALHAÇOS E AINDA ASSIM VAMOS DORMIR COMO SE NADA ESTIVESSE ACONTECENDO.// É RESPONSABILIDADE NOSSA, SIM, ABRIRMOS OS OLHOS PARA IDENTIFICAR AS RAPOSAS; APURARMOS A AUDIÇÃO PARA SABER DOS DESCALABROS; CHEIRAR, CHEIRAR E CHEIRAR PARA DESCOBRIR A PODRIDÃO.// E, NO FIM, VOCÊ VERÁ QUE ESTAMOS CERCADOS DE TANTOS CARNICEIROS QUE NEM SERÁ PRECISO CHEIRAR TANTO ASSIM.//

Vai se foder (com o perdão do segundo verbo)

A tarde estava propícia: sabadão chuvoso, eu sozinho, sem nada pra fazer, aquela indolência inevitável. Fui ver um filme. E, claro, comer pipoca. Sacão. Quase sempre o maior. Não importa o tamanho. O maior, por favor. E uma Coca 500 ml. Sala quase vazia. O croc-croc-croc da pipoca entre os dentes enchendo de graça o ansioso silêncio. Quantas poltronas tinha a sala mesmo? Umas trezentas? Algo assim. Vinte pessoas no máximo ali aconchegadas. Ao pé da escadinha, o casalzinho sobe abraçadinho. Put, put, put, put. Cadeiras numeradas. Todo mundo pensa que cadeira numerada é imexível. Tem que sentar lá. Mesmo que a sala esteja vazia. Vizinhos. Encolho-me. Chuapltz. Derrete-se um primeiro beijinho. Ajeitam-se. Papo. Papo. Papo. Começa o filme. Riem. Sussurram. O filme segue. Ajeitam-se. Chuapltz, chuapltz. Riem. Ajeitam-se. Papo. Papo. Papo...

Plataformas

O mundo hoje está separado em dois: o das plataformas tecnológicas, que anunciam uma profunda transformação no modo de se informar, de ler, de ver TV, de ouvir música, de se modernizar; e o das plataformas reais, que vivem alagadas, fétidas e pobres.

Com Martinho da Vila (só no começo)

Eu quero me esconder debaixo dessa sua saia pra fugir do mundo. Pra girar contigo numa dança infinda em que só você se satisfaz. Arrepiar suas coxas, queimar seu ventre, afagar sua alma. Penetrar sua alma. Lamber sua alma. Salivar. Deixar escorrer o líquido quente da minha boca: esquentar sua alma. Implodir, engolido por suas trevas, saciando as suas trevas, sob a névoa do seu gozo: ficar assim, úmido, submisso à sua felicidade: debaixo dessa sua saia pra fugir do mundo.

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