A órbita das desculpas

Fiz uma tremenda bobagem, não fiz? Como alguém pode cometer um deslize desse tipo? E logo com você? Sabe o que mais? Me sinto tão mal que nem sei como pedir desculpas. Na verdade, não sei se há espaço para esse tipo de atitude. Desculpar-se por algo é como tirar cara ou coroa. Porque a pessoa a quem você pede desculpas nunca terá certeza se o pedido é sincero ou se é apenas uma estratégia bem planejada.

Mas independentemente de sair cara ou cora, o fato incontestável é a sacanagem cravada nesta realidade. Não há como arrancá-la da nossa frente sem deixar no lugar uma ferida. Uma ferida dessas cuja cicatriz vai sempre nos atormentar. Um olho boiante que nos acompanha como um barco à deriva segue as ondas do mar.

A besteira está feita.

Fico pensando se eu poderia ter evitado. Mas é como tentar analisar friamente nossa própria atitude num momento de nervos à flor da pele. Alguém de fora, com absoluta isenção, quem sabe pudesse me dizer se eu poderia ter evitado. Mas não haverá alguém para me dizer algo assim. Porque eu não pretendo expor a baixeza por aí. Não pretendo sair gritando que eu cometi um erro imperdoável.

Só posso dizê-lo a você. A qualquer hora. Agora mesmo, se fosse o caso. Eu diria tudo. Abriria meu flanco a você. Com toda a minha sinceridade. Mas você também não acreditaria. Porque não dá para aceitar que haja no mundo uma pessoa tão insensata a ponto de ter cometido esse pecado e em seguida desculpar-se por ele. Eu mesmo não teria forças para acreditar em mim.

Mas assim mesmo, aqui estão minhas desculpas. Orbitando para sempre seu entorno. Ao lado das minhas bobagens todas, que compõem este universo onde um dia, talvez, haverá algo sólido.

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