As reformas – gráficas ou editoriais – por que passam constantemente os jornais transformaram-se num extraordinário desafio para aqueles que comandam ou fazem parte das estratégias desses veículos de comunicação. Há alguns anos, mudanças desse gênero eram escassas e quando ocorriam, saltavam aos olhos dos leitores. Hoje, a própria inquietude da sociedade – cuja busca desesperada pelo novo alterou completamente o prazo de validade das formas – gera também no meio jornalístico um desejo insaciável de mudanças.
A “Folha de S. Paulo” anuncia para maio sua nova reforma. O “Estadão” antecipou-se ao concorrente e já está em plena reforma. Outros jornais também estão se preparando para mudar. Mas o caso é que quase sempre são mudanças vazias. Neste momento em que a capacidade de sobrevivência do jornal impresso está sendo exaustivamente debatida, quando a parafernália tecnológica oferece uma vasta lista de opções para o sujeito se informar, talvez fosse o caso de uma reforma realmente profunda.
Mas será que sabemos quais são as ferramentas e os materiais adequados para levar a cabo tal reforma? Acho que ainda não. Não vejo como fazer uma reforma profunda numa época em que a sociedade – e os leitores de jornal impresso fazem parte dessa mesma sociedade – mostra-se tão apegada aos cabelos da superficialidade. Este ciclo de inovações tecnológicas que trespassa a humanidade impôs um ritmo absurdamente veloz aos nossos pequenos passos e criou uma nova dimensão de tempo. Tudo o que é reformado hoje, torna-se velho amanhã.
Será preciso estabelecer uma nova ordem mundial – em que se torne natural para o homem esta nova velocidade, em que seus pequenos passos sejam novamente sentidos em terra firme – para reformar profundamente os jornais e a própria sociedade. Ou, quem sabe, de certo modo, para exterminar a ambos, ao menos da maneira como são conhecidos hoje, podendo configurar-se assim a ameaça concreta que nos fita há algum tempo: o recrudescimento de uma sociedade frívola e desinteressada dos mecanismos que podem colaborar com sua evolução.
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