Eu também gostaria de jogar água com uma mangueira num tatu. Vê-lo de perto contentar-se com o refresco, assim como na imagem acima (há um vídeo que está no UOL, mas não consegui postar aqui porque sou ignorante nisso – só sei pegar os do Youtube, onde não o encontrei). Sinto que devo isso à espécie. Pelos motivos relatados abaixo.
Havia uma lua gigantesca olhando a noite. Se os faróis do carro fossem desligados, ainda assim seria possível trafegar pela rodovia de pouco movimento. Não me lembro para onde estávamos indo. Eu era apenas um adolescente dirigindo meu Fusca branco ao lado de alguns amigos.
A certa altura, pude ver a uma distância razoável o movimento estranho sobre o asfalto, como se uma bola de futebol estivesse rolando lentamente na pista. Reduzi a velocidade, acionei a luz alta e descobri a presença do tatu atravessando a estrada.
O pequeno animal já havia percorrido mais da metade do perigoso trajeto, quase chegando à margem oposta de onde vinha, mas talvez tenha se assustado com os faróis e resolveu retroceder. Ainda tentei mudar de pista, mas não houve tempo. Senti embaixo do assoalho do carro o dolorido ruído do atropelamento.
Parei no acostamento. Descemos e voltamos alguns metros. O bicho estava estirado, aparentemente sem movimento algum. Sem saber direito o que fazer, e sob os protestos dos amigos que queriam seguir adiante, levei-o cuidadosamente até a margem, como se retirá-lo da estrada, onde certamente seria estraçalhado por outros veículos, remediasse seu trágico destino.
Quando eu ainda o acomodava ao chão, senti nas mãos um baque inesperado: o animal estirou-se à frente e num pequeno salto escapou como se nada tivesse acontecido. Mesmo a lua forte não nos permitiu vê-lo em meio ao capim alto à beira da rodovia, mas o silêncio da noite nos deixou ouvi-lo em sua disparada assustada rumo à vegetação mais densa, deixando para trás, boquiabertos, aqueles seres estranhos que precisam de máquinas para ir e vir.