Conexão

O Senado já mandou para Arapiraca, em Alagoas, integrantes de sua CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que vai investigar a bandalheira dos padres acusados de pedofilia.

Não sei se vocês viram o programa do Cabrini, no SBT, que foi quem denunciou o caso (para quem perdeu, está tudo no youtube, claro). Se não fosse trágico, seria cômico. As cenas apresentadas no “Conexão Repórter” são ao mesmo tempo vergonha (por ter padres metidos – literalmente – nesse tipo de denúncia) e escárnio (pelas reações dos denunciados).

Abusar sexualmente de criança ou adolescente, crime de diversas facetas que muitas vezes envolve o próprio núcleo familiar, transforma-se em algo ainda mais aterrador quando emerge do seio da chamada santa igreja. É ali que talvez a maioria da sociedade, conservadora ou progressista, acredita, de modo explícito ou mesmo subconscientemente, haver ao menos uma reservinha moral.

Um detalhe que achei desnecessário no fim do programa do Cabrini foi ele ter dito que esse tipo de coisa mancha a dignidade dos padres que honram a batina. Não me lembro se foi com essas palavras, mas o sentido foi esse. Assim como jornalistas safados mancham a dignidade daqueles profissionais que procuram ser éticos. Assim como um pedreiro relaxado passa a impressão de que todos são. E por aí vai. Apesar que, pensando bem, eu mesmo, em comentários na TV, já procurei usar esse recurso. É uma espécie de recado ao público para que evitemos sempre cometer o pecado da generalização.

Agora, cá entre nós, mesmo com as chamas do pecado crepitando em nossa consciência, não é fácil imaginar que há no Senado uma reservinha moral, hein?

Igreja

Na minha infância, lembro-me de um padre muito austero cujo comportamento provocava no rebanho sentimentos do tipo amor e ódio.

Ele, aliás, dava aulas de religião na escola pública que eu frequentava e todo mundo ficava esperto porque o sujeito não era flor que se cheirasse com o giz à mão. Sua pontaria era ótima.

Mas o caso é que lá fora (e também entre nós) o burburinho sobre seus casos (com mulheres) circulava por todos os cantos do rebanho. Nunca algo mais palpável (rssss) chegou ao conhecimento do establishment. E o padre, quando deixou a cidade, saiu ileso. Não manchou a dignidade daqueles que honram a batina (Ah!Ah!Ah!).

Detalhe: naquele tempo, acho que não havia padre pedófilo. Porque não se falava disso (Ah!Ah!Ah! outra vez).

Historinha de medo (Rssss)

Eu raramente frequentava a igreja, embora tivesse feito a primeira comunhão (minha mãe era foda! Rsssss). Na escola, eu tinha aula de religião uma vez por semana, e assim mesmo era “apenas” uma aula mesmo (na época, 45 minutos). Eu nunca fui nenhum gênio, nenhum aluno acima da média, embora eu tenha recebido da minha professora de terceiro ano, que eu amava (de verdade! Rsssss), um livrinho (“Aladim e a lâmpada maravihosa”, que eu ainda tenho comigo) como prêmio por ter tirado a melhor média final do terceiro ano. Bem, mas aqui estou falando da aula de religião que tínhamos na quinta série. Pois bem, eu ficava lá no meu canto, quieto. Ou seja, meu contato com o padre era o mais superficial possível (também nunca fui coroinha. Rsssss). Isso foi em 1975! Puxa, sem comentários. Em 1985, dez anos depois, eu já era um homem. Tinha 21 anos, e não os 11 anos de 1975. Eu havia mudado. Mas não é que, numa madrugada, enquanto eu aguardava num posto de beira de estrada um maldito ônibus que tivesse uma vaguinha pra me levar de volta da faculdade até minha cidade, o dito cujo me aparece? Assim, do nada! Acho que estava em algum daqueles ônibus estacionados ao lado do posto. Eu o reconheci, claro. Mas o que eu jamais poderia esperar era que ele viesse até mim e me chamasse pelo sobrenome! É isso aí. Isso é que é padre (Rssssss).

Cruz

A imagem (acima) que escolhi para ilustrar a chamada na página principal do meu site é do filme espanhol "La cruz del diablo", que no Brasil está disponível (não sei onde... ah!ah!ah!) em VHS sob o título de "A cruz do diabo". É uma obra baseada num conto do escritor, também espanhol, Gustavo Adolfo Becquer (1836-1870). Ele é tido por muitos como o Edgar Allan Poe espanhol. Enfim, não assiti ao filme e dizem que é uma porcaria. Mas como escolhi a imagem, senti a obrigação de contextualizá-la.

Detalhe: esse filme – a ficha caiu agora, juro! – é de 1975! (mesmo ano que eu tinha aulas de religião com o tal padre).

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