Li “Mingutas: correndo da carranca do carimbo, caramba!” (Editora Patuá, 144 páginas) há alguns dias e, confesso, me senti embaraçado para ousar escrever alguma coisa logo em seguida. Isso contudo não representa uma grande novidade. Porque, como já disse aqui mesmo, não sei fazer resenha ou crítica literária. Sei apenas dizer se gostei ou não, incluindo algumas observações aleatórias. No caso do livro de Edison Veiga (Para saber mais sobre autor e livro, clique aqui), essa característica se aprofundou ainda mais em meus sentidos. Porque “Mingutas...”, acredito, tem também esse propósito, ou seja, nos desconcertar.
A certa altura nos deparamos com este período: “Palavras têm gosto e cheiro, não tenho culpa se você nunca experimentou. Têm som, cor, forma também”. Talvez esteja aqui encerrado o grande mérito do livro, ou o principal mérito do livro: a (nova) vida que ele dá às letras, às palavras, à língua, brincando sobre seus contornos, penetrando seus buraquinhos, correndo entre seus espaços, engrossando ou afinando seus desenhos.
Caso contasse com alguma autoridade literária, eu diria que está criado – ou fortalecido, caso pensemos que hoje em dia anda muito arriscado dizer que ainda se pode criar neste mundo criado criativo – um novo gênero: o desromance. Desromance no sentido de inverter a lógica do sentido. Esses mingutas, os seres imaginários de Edison Veiga, são enlouquecedores ao nos tirar dos trilhos de qualquer lógica. Eles podem estar sentados ao nosso lado no sofá vendo TV, podem viver escondidos em nossa cabeça disfarçados de neurônios, podem ser a divindade cósmica que soprou no ouvido da humanidade a gênese da palavra. Esses mingutas são foda.
São foda porque nos perturbam, nos fazem deixar aquela velha zona de conforto a qual somos tão propensos em nossas vidas, nossas vidas que sempre encontram mil motivos para se abastecer em postos de mesmice intelectual e preguiça filosófica.
Os nove mingutas cor de abóbora são, acima de tudo, acima da delícia literária que compuseram na cabeça inventiva de Edison Veiga, acima da vivacidade e da ironia sobre a qual transitam sigilosamente embaixo de nossos narizes, eles são entidades heroicas. Exatamente porque nos socorrem e tentam nos tirar do sério, apresentando aos nossos olhos um incrível e saboroso caleidoscópio (termo usado na excelente apresentação do livro pelo professor de literatura Frederico Barbosa) que nos rejuvenesce. Imaginar o novo, pensar hoje como não pensávamos ontem é rejuvenescer.
Penso agora: essas criaturas do Edison estão andando, voando, nadando, zanzando por todos os lugares. Estão na igreja sentadas na borda do cálice do padre tomando vinho enquanto a hóstia é distribuída; estão no motel botando brasa no fogo dos amantes; no céu pintando de azul as nuvens para que se confundam com o céu; nos livros juntando letras que não se dão; soprando velinhas de aniversário antes do aniversariante; fazendo o leite subir na hora em que tiramos o olho; batendo na bunda do bebê quando ele nasce; ah, e também tomando sol em A Fazenda e torcendo para que venha logo o novo Big Brother para poderem passear nas hastes dos óculos do Bial; e, claro, mijando no azeite da sua salada; e por fim teclando este texto que eu jamais escreverei.
E fora isso, tenh (É, acaba assim mesmo porque eu quero e pronto. Assinado: Minguta número 7)
Tags: escritores, Literatura, Livros