As emissoras de televisão continuam intensificando a maneira informal de levar as notícias à nossa casa. Os apresentadores, cada dia mais próximos do público, quase não fazem mais os velhos relatos sob a sonoridade de vozes graves e impostadas. Já faz um tempo, eles agora conversam como se fossem interlocutores presentes bem ao nosso lado, na sala onde fica o aparelho.
A transformação gradativa de certo modo acompanha os próprios passos da humanidade. A maneira de falar, de agir, de interagir, a maneira de encarar as coisas, enfim, o nosso comportamento vai deixando para trás a formalidade e adotando contornos espontâneos, retrato de uma sociedade que busca se modernizar constantemente por meio das novas tecnologias e dos benefícios gerados à comunicação.
É uma mudança inevitável. E boa. É mais agradável ouvir pessoas que, à medida do possível, se propõem a dialogar com você do que vozes que parecem sair de um megafone impessoal que despeja palavras para quem quiser ouvir. Um sorriso na hora certa, um comentário como os que fazemos em nosso cotidiano, uma pergunta inteligente ao telespectador, tudo isso ajuda a atrair a atenção para a informação.
Agora, convenhamos, também nesse caso há limites. A coisa às vezes beira a farra. Forçam demais a barra. Riem a toda hora. Fazem caras e bocas. Metem frases que pouco têm a ver com a situação. Ontem ouvi um comentário mais ou menos assim num dos telejornais: “Quando essa chuva vai parar, hein?”.
A pergunta, em tom de lamento e preocupação, veio logo após a apresentação de reportagens sobre os efeitos das cheias em várias cidades brasileiras, incluindo deslizamentos, soterramentos, mortes etc.
Ora, estamos na época das chuvas! É absolutamente normal que em janeiro de todos os anos a natureza despeje água à vontade. A pergunta que deveria ser feita não é “Quando essa chuva vai parar?”. A pergunta é “Quando vão parar de construir casas em encostas, em lugares inadequados?”. Ou “Quando os homens públicos vão parar de meter a mão no dinheiro destinado à prevenção das tragédias causadas pelas tempestades e aplicar de modo correto os recursos para que as desgraças não sejam as mesmas todos os anos?”.
O jornalismo precisa se cuidar. Maquiagem às vezes é bom. Mas não para a informação.
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