Uma das principais características da sociedade atual é a sede de orientação, mas não uma orientação que a faça se sentir preparada para escolher um caminho. As pessoas hoje querem o roteiro pronto. Por onde devo seguir? Até onde? Qual o melhor meio para chegar lá? Quando chegar lá, o que devo fazer?
É a época da ansiedade, do imediatismo e da corrida por um lugar ao qual muita gente quer chegar mas nem todos chegarão.
Em todo programa aberto à participação do público, o entrevistado se depara com perguntas do tipo “como você conseguiu?”, “o que você sugere que as pessoas façam para conseguir seu sucesso?”, “quais as chances do recém-formado?”.
No jornalismo, não é diferente. No primeiro ano, os estudantes já estão vivendo a neura do mercado de trabalho. Eis aí um erro que pode ser fatal.
Claro que o aluno, desde o início (e talvez antes) precisa estar preocupado com o momento em que sairá da universidade. Mas essa preocupação não pode comprometer sua formação.
Uma boa universidade deve prioritariamente investir em mecanismos eficientes para a boa formação de seus alunos e não apenas tentar, numa corrida enlouquecida, prepará-lo para o mercado de trabalho.
Convicto, um amigo jornalista, que exerce um cargo importante num importante jornal, me diz o seguinte: boa parte dos estudantes de jornalismo, e mesmo jornalistas recém-formados, não sabem a diferença entre Geisel e Figueiredo.
E eu acredito nele. Em vez de tentar resolvê-las, em vez de viver a aventura formadora de tentar resolvê-las, a sociedade busca insanamente fórmulas acabadas para as equações mais importantes da vida. Vejam a correria tremenda para publicações – fajutas ou não – de auto-ajuda.
E no meio jornalístico, a coisa não é diferente. Buscam no Google, investem no Ctrl C Ctrl V, desprezam sua própria história e põem-se a escrever sobre o que não sabem e tampouco querem saber.
Outro amigo, este professor de jornalismo numa universidade localizada no estado mais rico do país, faz uma confidência em tom melancólico: estou dando aula para uma geração perdida.
Está certo que talvez ele exagere, mas os indicadores – com base em constatações de gente parruda do meio – não estão para brincadeira.
Lei da selva
A verdade nua e crua é que os animais – e o homem é um deles – beneficiam-se da chamada lei da selva ou lei do mais forte. O deserto ao qual está atirada – como diz meu amigo professor – uma geração inteira pode ser a tábua de salvação para aqueles que souberem vencer sua aridez. O sujeito que se prepara bem numa boa universidade não precisará de roteiros prontos para escolher sua estrada. Ele saberá abrir novos caminhos. Ele dará novos rumos para as futuras gerações.
Poetas mortos
Estarão mortos os poetas? Terá a vida se transformado apenas nesta complexa operação matemática de nosso cotidiano? Alguém já assistiu “Sociedade dos poetas mortos”?
Este filme, pra mim, foi marcante. É de 1989, mas me parece não ter prazo de validade, principalmente quanto à proposta do professor John Keating (Robin Williams): fazer com que seus alunos pensem por si mesmos.
A direção do belíssimo filme é de Peter Weir, que dirigiu também outras obras das quais gosto muito, como “O mestre dos mares” e “O show de Truman”. Quem também está no elenco é Robert Sean Leonard (famoso por “House”).
“Sociedade...” foi indicado e ganhou vários prêmios, incluindo um Oscar (de melhor roteiro original). Enfim, vale a pena assistir, não pelos prêmios que ganhou ou deixou de ganhar, mas pela carência de inspiração destes dias de tantas perguntas feitas para obter respostas prontas.
Como nos recomenda Horácio, o poeta romano: "carpem die" (colha o dia).
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