Eu estou aí nesta foto, de verde, num Carnaval no Cafelândia Clube
Sabe qual foi a Coca-Cola mais gostosa que eu já tomei na vida?
Eu costumava fazer essa pergunta para a mulher da qual hoje sou ex-marido. Devia ser um tédio para ela. Chegou a decorar: “Ai, tá…”, ela começava, “foi a Coca que você bebeu no Cafelândia Clube num domingo de Carnaval”.
Isso mesmo. Depois daquele sabadão irado (rsss), fui à matinê no domingo. A gente ia à matinê só para dizer que não tinha naufragado, que estava inteiro. E, claro, para ver se encontrava a menina que estava a fim etc e tal.
Garganta seca, aquele gosto de ferrugem na boca, a banda mandando o pau lá no salão, a criançada pulando feito louco... Eu fui ao balcão e pedi uma Coca ao Curinga. Era de garrafinha, a melhor que há. Não essas coisas de plástico, essas coisas nojentas de plástico...
Ele abriu, ouvi aquele chiadinho, ouvi a tampinha bater no chão dentro do bar, apertei o vidro para sentir a temperatura. Estava trincando. Andei alguns passos em direção à porta lateral, que dava (não sei se dá ainda) para as piscinas.
O domingo estava radiante. O piso, a grade que circundava as piscinas, a água azulada pelo reflexo dos ladrilhos, os muros, os corpos vermelhos, bronzeados, branquelos, negros, amarelos...
Virei com calma aquela Coca. Senti o líquido borbulhar na garganta, um prazer intraduzível. O sol lá em cima. O céu azul. A banda martelando ao fundo. Paramparamparamparam...pararararammmm. Eu podia ouvir minha glote... glub, glub, glub... Sei lá, nunca mais esqueci aquela Coca.
Hoje é aniversário do Cafelândia Clube. Tudo bem, quem é cafelandense sabe que o Cafelândia Clube reuniu a elite da cidade nos áureos tempos. Por exemplo, no Carnaval, havia três faixas sociais muito claras: no Cafelândia Clube ia a classe alta (vamos manter assim a nomenclatura, que era a nomenclatura na época), no Kaikan ia a classe média, o pessoal que não era sócio do Cafelândia Clube e que sabia que o Kai era uma delícia, e na Panela ia quem não tinha grana e também (vamos deixar a hipocrisia de lado) os chamados biscateiros... ahahahhaha.
Mas o detalhe é que, de algum modo, o Cafelândia Clube reuniu a maioria das pessoas. Fosse nos bailes ou nas matinês (isso em termos de Carnaval). Hoje, sinceramente, não sei como está a coisa.
Bom, mas voltando à Coca. Acho que aquela Coca representou um momento, uma época em que eu gostava muito do Cafelândia Clube. Isso foi lá pelo fim dos anos 1980. Eu acredito que para muita gente, para muitos cafelandenses como eu, o Cafelândia Clube também tem uma representação importante na memória.
Dia desses, eu estava tentando relembrar quantas meninas eu beijei no Cafelândia Clube. Imagine quantos beijos, quantas passadas de mão, quantos amassos, quantos esfregas, quantas chupadas no pescoço, quantas excitações (e sabe-se lá o que mais) não rolaram dentro daqueles salões!
Ali, formulamos fantasias, pensamos loucuras, fizemos coisas que marcaram nossas épocas.
Eu me lembro que num ano nós montamos um bloco de Carnaval para participar do concurso do clube. Havia vários concorrentes. Todos estilosos, cheios de recursos. O nosso era bem fraquinho, pra dizer a verdade. Então, eu bolei um plano que pareceu uma idiotice.
Na entrada dos blocos no salão, os componentes faziam mil peripécias. Quanto maior o barulho, quanto mais chamassem a atenção, melhor. Eu pensei que não tínhamos como competir. E propus entrarmos todos em silêncio, de cabeça baixa. Ahahahahhahaha. E depois de muitas deliberações e protestos lá fora, acabamos fechando questão. Entramos assim, quietos. Bom, ganhamos.
Foi também no Cafelândia Clube que estávamos tão animados que, em determinado momento, sem perceber que o baile já tinha acabado, eu olhei para meu amigo Deco (que morreu no ano passado) e disse: “Olhe aquilo, pra que manter os refletores da quadra acesos se o baile é aqui dentro?”. A quadra ficava no lado oposto das piscinas. Havia janelas que davam para a quadra. O Deco olhou lá fora e, após dar mais uma golada de uísque ou de cerveja, me disse: “Não, ABC, não tem nada aceso, não. É o sol mesmo.”
Parabéns, Cafelândia Clube. Suas estruturas não vão me ouvir. Mas eu ainda te ouço.
No meio do salão do Cafelândia Clube, com a Selma e uma garrafa de Malt 90!!!!!
Tags: Cafelândia, Carnaval, Comportamento, Sociedade
Sinto saudades destes bons tempos, cheio de alegrias. Meus olhos brilhavam mais. Se voltasse pelo menos um dia.
eu acho que conheço dois da foto a moça da esquerda e o beto cumé de camisa branca!!!!