Para ler
Acabei de ler “Vida de escritor”, de Gay Talese, um dos principais jornalistas dos Estados Unidos e conhecido mundialmente.
Parece-me ser um dos livros mais honestos que já li. Não há ali grandes glórias. Mas grandes fracassos, grandes dramas humanos e grandes temas jornalísticos. Não há alguém contando seus momentos memoráveis. Há alguém unindo histórias que perfazem um mundo de incertezas e reflexões.
O autor tira a roupa das palavras, encaixando-as de modo simples e eficiente num enredo cru e verdadeiro. Ele tira a roupa das palavras, deixando-as nuas e, parece-me, absolutamente sinceras.
A vida do próprio Talese está, neste livro, entremeada de histórias acontecidas no decorrer de sua carreira. A maneira como ele trafega por todas elas é de uma simplicidade desconcertante. Quando você se dá conta, já está inserido num novo assunto que agora há pouco nem imaginava. Como a própria vida, aliás.
O livro é um ótimo exemplo para jornalistas que ficam putos da vida quando seus textos não são publicados na íntegra. Ou quando suas matérias simplesmente caem. Talese narra casos em que, após meses trabalhando num determinado tema, o veículo de comunicação que o contratou simplesmente decide não publicar o conteúdo produzido. E um conteúdo de Gay Talese!
A publicação faz parte da excelente coleção “Jornalismo literário”, da Companhia das Letras, coordenada por Matinas Suzuki Jr.
Eis o primeiro trecho do livro:
"Não sou, nem nunca fui, um apreciador de futebol. É provável que isso se deva, em parte, à minha idade e ao fato de que, na adolescência, quando eu morava no litoral sul de Nova Jersey - há meio século - esse esporte fosse praticamente desconhecido dos americanos, a não ser os nascidos no exterior. E embora meu pai fosse nascido no exterior - era um sisudo alfaiate que se vestia com esmero, oriundo de uma aldeia calabresa, no sul da Itália, e naturalizado norte-americano em meados da década de 1920 -, quando conversava comigo sobre futebol ele se limitava a discorrer sobre as brigas de sua juventude relacionadas ao esporte, e sobre a frustração que sentia ao ver os colegas de escola jogando numa praça enquanto ele costurava à janela dos fun dos de um ateliê próximo, onde trabalhava como aprendiz. No entanto, como muitas vezes me repetia, já naquela época ele sabia que aqueles jovens atletas (entre os quais havia irmãos e primos seus, menos conscienciosos) estavam perdendo tempo e pondo em perigo seu futuro, chutando bola de um lado para outro quando deveriam estar aprendendo um ofício digno e se preparando para pagar o alto preço de uma passagem para os Estados Unidos, onde poderiam alcançar a prosperidade como imigrantes. Mas não, conti nuava ele, incansavelmente dedicado a me advertir: eles dissipavam suas tar des jogando futebol na praça, da mesma forma como mais tarde viriam a jogar atrás da cerca de arame farpado do campo de prisioneiros de guerra no norte da África em que foram metidos pelos aliados (aqueles que não foram mortos ou ficaram aleijados em combate) quando se renderam, em 1942, na qualidade de soldados de infantaria do exército derrotado de Mussolini. Vez por outra, eles enviavam cartas a meu pai, contando sobre o confinamento. Um dia, já perto do fim da Segunda Guerra Mundial, ele pôs de lado a correspondência e me disse, num tom de voz que prefiro interpretar como mais triste do que sarcástico: "Eles ainda estão jogando futebol!".
Para ver
Diz que o Gianecchini usará pouca roupa na próxima novela das oito, “Passione”, que substituirá “Viver a vida”. Qual a novidade nisso? Será apenas a continuidade da fórmula utilizada atualmente pela televisão aberta, em que os sarados e as gostosas enchem a telinha com seus físicos apetitosos.
E vou ser sincero: não vejo nada demais. Quer dizer, às vezes vejo sim (rssss). Mas o que quero dizer é que, como dizem os descolados, “normal”. E é normal mesmo.
O que não acho normal é a baixa qualidade da programação. E isso não tem nada a ver com gente pelada. A televisão aberta, fora pouquíssimos exemplos, virou uma funda baboseira. Criou-se um ciclo: fazem assim porque o público gosta e o público parece gostar porque não tem para onde ir, a não ser os segmentos de melhor poder aquisitivo, cuja renda lhes permite assinar os canais fechados.
O problema não está na roupa ou na falta dela. O problema está no cérebro ou na falta dele.
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