Complexidades

A teoria maniqueista que muitas vezes é aplicada a pessoas ou a estruturas das quais essas pessoas fazem parte nunca me convenceu.

Revi por estes dias, na TV fechada, um filme capaz de ilustrar bem o que eu considero um equívoco. “A vida dos outros”(2006, Alemanha, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro) é sobre o esquema de vigilância montado pelo governo da ex-Alemanha Oriental para acompanhar os passos do mais importante dramaturgo do país e de sua namorada, uma famosa atriz, na época da Guerra Fria.

Quem rouba a cena é o responsável pelo esquema, o capitão Gerd (Ulrich Mühe), cujo interesse pela vida dos vigiados torna-se um verdadeiro fascínio, capaz de levá-lo a atos impensáveis para alguém que integra um sistema desse gênero. No fim, o próprio vigiado lhe concede uma emocionante homenagem.

Acho muito simplista dizermos que tal sujeito ou tal sistema político ou seja lá o que for é bom ou mau. Um sujeito considerado mau pode guardar características que desmentem sua fama. Um sistema considerado ruim pode ter bons sujeitos. E o inverso também vale.

Acho que, no fundo, todos somos bons e maus. Do papa ao pior bandido.

Seleção
Também não dá para sair atirando no Dunga porque ele não convocou jogadores que todo mundo gostaria de ver na Copa. Eu, como torcedor, levaria vários craques que ele desprezou. E deixaria de fora outros que ele vai levar.

Mas não sei se eu, caso fosse o técnico da Seleção, agiria de modo diferente. Pra mim, não se ganha uma Copa do Mundo apenas com craques. Se não houver um elevado grau de compromisso e de união (sei que é difícil exigir isso das chamadas estrelas), a estrada vira trilho (como se diz lá na roça).

A verdade é que se a seleção do Dunga chegar lá, o torcedor não vai nem se lembrar do que hoje é considerado sacrilégio. E francamente não acho que seja tão improvável. O Dunga, queiram ou não seus desafetos, ganhou quase tudo que disputou como técnico da Seleção.

Sei que alguém aí vai dizer em tom de deboche: “Ganhou o quê? Eliminatórias? Copa das Confederações? Copa América?”. E eu direi: “Sim, foi o que ele disputou, fora as Olimpíadas”. Portanto, queiram ou não seus desafetos, o cara tem cacife. Isso é fato.

Mas que ele podia ter levado mais gente boa, isso podia.

Enfim, no fundo, todos somos bons e maus. Do Ganso ao Dunga.

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